O estilo Álvaro
Estou há mais de duas horas a ouvir o ministro Álvaro Santos Pereira na Comissão Parlamentar de Economia e Obras Públicas. É inacreditável como é que um tipo está mais de duas horas a debitar falando apenas do passado, dos modelos (errados) de desenvolvimento, das estratégias que não deram resultados e dos erros cometidos. Tudo foi ruinoso, na sua perspectiva, e o único elogio que se lhe ouviu foi ao modelo de desenvolvimento dos anos 50 e 60. Mas isso ainda seria o menos, não fosse dar-se o caso do "ministro Álvaro" ter sido absolutamente incapaz de dar uma resposta objectiva, de concretizar uma medida que fosse - com excepção de garantir novo aumento de transportes para Janeiro -, limitando-se a divagar e a explanar raciocínios teóricos inconsequentes. Que os outros erraram já todos nós sabemos. Não é preciso que ele o venha dizer. O povo não sabe onde fica Vancouver, mas isso ainda percebe. Por isso é que agora está lá ele.
Quanto ao mais, ao que importa do ponto de vista da reforma do Estado ou da redução da despesa (apontar o dedo à, criticável, ostentação dos antecessores não chega), limita-se a dizer que estão a estudar ou que vão estudar.
Bem sei que o Governo tomou posse há pouco mais de um mês, mas de quem escreveu e publicou lençóis antes de ir para o Governo, era suposto que tivesse alguma ideia mais concreta. De teoria está o País cheio. Alguém devia dizer ao senhor ministro que na Universidade é que ele é pago para estudar e investigar. Enquanto ministro são-lhe pedidas soluções e decisões. O ministro Álvaro neste momento é pago para decidir, não para continuar a atacar o passado sem concretizar soluções para o futuro.
Regista-se, igualmente, a falta de humildade, o tom professoral utilizado de cada vez que se dirigia aos membros da Comissão, a forma como fugiu às respostas e manipulou o discurso com a conivência do presidente da Comissão. Ao contrário do que disse o deputado Campos Ferreira, a democracia não é a liberdade de cada um fazer as perguntas que entende e de cada um dar as respostas que quer. É o ministro que responde perante o Parlamento e não este que deve responder às dúvidas ou "bocas" do ministro. Se fosse para falar sozinho ou para só responder aos seus fiéis, não valia a pena o ministro ir à Comissão. Podia ficar no ministério. Ou em casa. Ou não ter saído da Universidade, já que aí tem certamente toda a liberdade para fazer o que muito bem entende ou só responder ao que lhe apetece e convém.