Sem espinhas
O mundo não muda - ou antes, muda apenas o suficiente para ficar tudo mais ou menos na mesma. O exemplo que se segue, atenção, tem excepções, como tudo na vida. Há por aí agora uma carrada de indignados quanto às nomeações para a CGD, e a indignação é capaz de ser mais do que justificada (não li muito sobre o assunto, confesso); recordo-me contudo de que muitos indignados fizeram vista grossa ao longo dos anos e da política de jobs for the boys que fez escola no PS (já se esqueceram dos saltos à vara?), e não só. De igual modo, muitos dos que antes barafustavam fecham-se agora no convento e fazem voto de silêncio. Está tudo muito bem: no fundo, é um reflexo da actividade política e da rotação partidária entre comentadores, opinadores e população em geral; e é um reflexo que não escolhe clube político. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, já dizia o poeta; e por cá, as convicções têm a constância das marés.
O que falta à política - e, de certa forma, à sociedade portuguesa - não é seriedade, rigor, honestidade ou habilidade. Quer dizer, também falta um pouco disso tudo, mas falta ainda mais do que isso. Falta espinha dorsal.