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Delito de Opinião

Crash testes

Rui Rocha, 14.07.11

 

Os resultados dos exames nacionais do ensino básico representam uma desgraça nacional. Deixando de lado o eduquês das competências e das aprendizagens, metade dos alunos não sabe um charuto de Matemática e não consegue escrever ou entender uma frase na nossa língua.

 

Não nos enganemos. A primeira responsabilidade por este estado de coisas é dos pais. E os pais destas crianças são os filhos do facilitismo que atravessou o final da década  de 80 e a década de 90 do século XX. Fazem parte do exército dos que entraram para pseudo-universidades com notas negativas, dos que encontraram um emprego (sem nada fazerem para o merecer) na crista da onda de uma expansão económica insustentável e que, contra toda a probabilidade, foram até promovidos porque o Estado e as empresas cresceram e era preciso promover alguém. Apesar dos sucessivos choques de realidade que começam a sofrer, esses pais vêem ainda o mundo dos filhos com os olhos do facilitismo de que beneficiaram. Nada mais falso. O mundo dos filhos terá muitas e extraordinárias oportunidades. Mas, essas estarão reservadas a quem as souber merecer. E, assim, se os pais foram calaceiros impenitentes e ainda assim alcançaram o que muitos nem sequer sonhavam, os filhos terão que investir muito esforço sem nenhuma garantia de alcançarem metade daquilo que os pais esbanjaram. A mensagem em casa deveria ser a de valorizar a escola, o estudo, o trabalho e a dedicação e sim, também e no devido tempo, o lazer, os amigos, a diversão, o amor, os passarinhos da Primavera,  o calor do Verão, o vento do Outono e o frio do Inverno.

 

A segunda responsabilidade é do sistema de ensino. Sucedem-se as reformas curriculares e organizativas e os resultados são os que vemos. A matéria é vasta e não cabe num post. Mas, esta sucessão de fracassos deixa claro que nada se melhora apenas por decreto, por programa ou por estatística. Melhorar dá muito trabalho. Melhorar um nadinha exige um tremendo esforço. E só se faz com pessoas. A par dos alunos, as pessoas mais importantes no sistema são os professores. E a qualidade média dos professores em Portugal é muito fraca. Com honrosas excepções (insisto que existem), a massa docente compõe-se de um grupo da velha guarda com práticas pedagógicas ultrapassadas e conhecimento técnico desfasado e de um grupo de jovens e menos jovens turcos que estão no ensino como podiam estar numa repartição de finanças a carimbar requisições. Neste último grupo lá os temos também, os que entraram nos cursos superiores com notas miseráveis e que hoje se dedicam a ensinar aos outros coisas que nunca perceberam. Melhorar a qualidade dos professores é fundamental. O exame de acesso à profissão é uma necessidade urgente. O sistema de ensino público não existe para dar emprego a quem quer ser professor. Existe para ensinar e por isso deve escolher quem tiver melhores condições para o fazer. O exame não é a única forma de avaliação, mas é fundamental. E a prestação de provas não devia ficar-se por aqueles que pretendem ingressar na profissão. Ao longo dos tempos, ingressaram na carreira muitos incompetentes. Também estes deviam submeter-se a exame. E não é preciso inventar muito. Basta submeter os professores aos exames e provas a que também os alunos são submetidos. Infelizmente, muitos dos professores não os saberiam resolver. E existem hoje alguns professores bem preparados no desemprego que os poderiam substituir.

 

Tratando-se do futuro dos nossos filhos e do país, este é um tema que gera sempre grande debate. Mas, para começar, já não seria mau que se assegurassem dois aspectos tão básicos que até dá raiva sentir-me obrigado a falar neles: que as crianças fossem para a escola com vontade de aprender e que os professores soubessem e quisessem ensinar.

 

E, para terminar, deixo ainda uma pergunta: com resultados tão maus, existe alguma razão para alunos e professores não passarem o mês de Julho na escola, uns a esforçarem-se por ensinar e outras a esforçarem-se por aprender?

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