Santiago
Há um ano fui porque alguém que não era ainda alguém precisava ou eu precisava por ele, não sei. Agora volto e estaremos todos juntos na capelinha de Nossa Senhora do Pilar, padroeira de Espanha, a santa que adorna o nome da minha avó, da minha mãe e o meu. Dizem-me que a minha ideia de consolo pode ser louca, afinal são 540 km para cima e para baixo. Eu preciso de consolo. Deve ser muito exigente não acreditar em nada que nos transcende. É-me difícil de entender também quem se diz uma coisa e depois outra, como se a Fé fosse algo a que basta juntar pó e água.
Dói-me o fundamentalismo e compreendo o tempo dentro do tempo da instituição mesmo que me irrite. Diria que sou uma cristã em recuperação, como os toxicodependentes. Todos os dias, mais um dia. Só por hoje.
E hoje será em Santiago por causa de um outro e de mim, porque a Fé também é egoísta e não há mal nenhum nisso, pelo menos não o vejo. Vejo o Mal em todos gestos pequenos e intolerâncias, pontos minúsculos que não valem nada mas que magoam. A facilidade com que se magoa o outro e depois se crê em Deus dá-me vontade de rir. Uns dias. Outros dá-me vontade de chorar. Dirão, somos humanos, erramos. Sim. Na prática. Mas não será possível suavizar a teoria? Porque quem quer ser boa pessoa não o consegue ser todos os dias. Fazer o quê? Consola-nos acreditar. É uma sorte.