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Delito de Opinião

Um tiro na cabeça

Ana Vidal, 04.07.11

Entristece-me assistir à morte de alguém, seja ela real ou metafórica. Mais, ainda, à de um homem por quem já tive admiração. Fernando Nobre foi, em tempos, alguém que criou e desenvolveu uma obra meritória e pioneira em prol dos mais desfavorecidos. Mas isso não lhe bastava, sabemo-lo agora. A tentação da ribalta falou mais alto e ele deixou-se armadilhar pela própria ambição, sabiamente manipulada, muito provavelmente, por outros muito mais experientes nessas artes. E assim disse e se desdisse continuamente, descendo a pulso na vida política e na imagem que dele tínhamos. Fernando Nobre não precisou que ninguém lhe desse um tiro na cabeça - nesse dramatismo de novela mexicana que era, afinal, premonitório - para morrer aos olhos de todos nós. No caso, para suicidar-se. Ele próprio agarrou na arma, encostou-a à têmpora e premiu o gatilho. E fê-lo aos poucos, lenta e dolorosamente. Tão altas expectativas para acabar assim, tristemente, sem nobreza nem dignidade. Cai o pano sobre uma figura triste, que ultimamente só tem feito tristes figuras.

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