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Delito de Opinião

E o reaccionário sou eu?

Ana Margarida Craveiro, 20.06.11

Há coisas que nunca mudam. Ontem a Sic passou uma Grande Reportagem sobre gente que tinha dado a volta ao desemprego. Basicamente, apresentava casos de sucesso de gente que se recusou a desistir face à perda de emprego: um casal montou uma carrinha de lavagem de cães e gatos, outro montou uma empresa de limpezas, três ex-operários compraram as máquinas da fábrica fechada e são agora exportadores, e por aí fora. Nenhum omitiu a dificuldade da nova situação, nenhum falou em mares de rosas. Trabalham agora sete dias por semana, com uma responsabilidade enorme em cima dos ombros, mas trabalham. E levam dinheiro para casa. A jornalista resolveu perguntar então a um líder ou porta-voz da CGTP o que pensava do assunto. A resposta foi alucinante: do alto de um paternalismo inenarrável, o tal sindicalista (com emprego certo, pois então) dizia que nem todos podem ser empreendedores, e que criar empresas é muito complicado, porque estes trabalhadores ganham esperanças e depois podem perder tudo de novo. Terminava dizendo que ainda é mais difícil dado que passam à condição de patronato, e toda a gente sabe o que isso quer dizer. Eu juro que não entendo. O reaccionarismo daquela cabeça bolorenta é tanto que prefere o desemprego ao sucesso. Pobrezinhos, mas honrados, que isso de ser patrão é coisa para cair no inferno. E pobrezinhos, mas honrados, porque ninguém deve sair do seu cantinho de operário ou de empregado. A ordem social existe por algum motivo, não é para ser alterada. Já agora, a taxa de insucesso destes novos empreendedores é de 7% ao final de dois anos. Quer isto dizer que 93% garantem o seu próprio emprego, quando não criam até emprego para outros. Mas para os nossos sindicatos são uns traidores da sua situação de pobrezinhos. Ah, Salazar, Salazar, ainda estás em tanto lado.

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