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Delito de Opinião

Um café chamado nota dez

Rui Rocha, 16.06.11

O Moinho de Pão fica mesmo ao lado de um dos Tribunais de Braga. O seu ciclo de vida diário está alinhado pela agenda de magistrados e funcionários judiciais. Tipicamente, as mesas enchem-se até às 9h00, para um pequeno-almoço retemperador, sempre necessário depois do sono. Esse que, tratando-se de quem se trata, só poderá ter sido o dos justos. Depois, algures entre as dez e picos e as onze e tal, a sala volta  a estar completa. Os mesmos que tomaram o pequeno-almoço, saboreiam um cafezinho e, quem sabe, uma nata dessas que o forno há dias colocado junto ao balcão mantém sempre quentes. Um consolo para o estômago, depois de consumados os adiamentos da praxe ou, dando-se o caso de um assomo anormal de produtividade, de terem sido forçados no remanso do gabinete alguns acordos que, se não compõem adequadamente os interesses das partes, sempre tornam menos negras as estatísticas da Justiça. O café repete-se depois do almoço e os que resistiram à nata matinal, consumidos pelo sentimento de culpa, acabam por ceder à tentação. O dia não acaba sem nova visita, esta à razão de chá e torradas, depois dos adiamentos e dos acordos vespertinos, num movimento de eterno retorno que se inicia com a abertura do ano judicial, este sinalizado por hossanas à Justiça, e que nunca mais acaba. Se tivesse por hábito fazer um registo das principais ocorrências do dia, hoje, o gerente do Moinho, que já foi o Jorge e agora será outro, anotaria um pouco mais de burburinho nas mesas dos magistrados e um prolongamento de cada visita para, aproximadamente, três quartos de hora. Sendo certo que, em dias normais, a duração média andará por escassos trinta e tal minutos. Quanto às mesas dos funcionários judiciais nada de muito novo teria para registar, a não ser uns sorrisinhos sacanas mal dissimulados pelo bigode do Mendes do 3º Juízo e pela  barba do Lopes da 2ª Vara. Entretanto, amanhã, todas as rotinas serão retomadas. E nestas mesmas mesas se sentarão, no dia seguinte, alguns dos que ontem copiaram. É por essas e por outras que nunca tratei o Moinho de Pão pelo nome. Para mim, chamava-se CEJ, a abreviatura que encontrei para designar o Café onde é possível fazer Estudos profundos sobre a situação nos meios Judiciários. A partir de hoje, passei a chamar-lhe Nota Dez.

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