Mário Soares
Percorro a pé o jardim do Campo Grande, ao fim da manhã, como tantas vezes gosto de fazer. De súbito, vejo caminhar a curta distância um homem alto, vestido de escuro, cabelos brancos. Tem um andar inconfundível. Digo para mim próprio: é Mário Soares. Aproximo-me dele. Caminha em passo estugado, vem da zona onde tem residência, dirige-se às imediações do metropolitano. Defronte da Biblioteca Nacional, vira para trás, prossegue a marcha em ritmo cadenciado e firme. Cruzo-me então com ele, cumprimento-o: “Como está, senhor Presidente?” Sorri, faz-me um aceno simpático e prossegue a sua marcha. Mais ninguém em redor nesta cidade despovoada num domingo soalheiro. É de algum modo a imagem do suave quotidiano português, nem sempre reflectido nas manchetes dos jornais. E também do próprio ex-Presidente da República, que sempre detestou escolta e segurança pessoal.