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Delito de Opinião

Incómodos e esquecimentos

José António Abreu, 25.05.11

Incomodam-nos imenso as críticas vindas de fora. É como se os nossos defeitos apenas se tornassem graves quando um estrangeiro os aponta (ia escrever «visíveis» em vez de «graves» mas nós conseguimos vê-los, recusamos é admitir a sua gravidade e, mais ainda, fazer algo para os corrigir). Incomodam-nos imenso as tiradas de Angela Merkel, por exemplo. Assustam-nos, também, porque sentimos estar nas mãos dela e de outros que pensam como ela; gente fria, sem a nossa tendência para adiar a aplicação de medidas difíceis. Acusamo-los então de demagogia, de não nos conhecerem, de terem visões erradas de como somos e dos esforços que já fazemos. Esquecemos (ou fingimos esquecer) que, em grande medida, esses esforços resultam de más políticas nossas, de conluio entre o nosso governo e meia dúzia de grupos económicos (o caso que Luís M. Jorge refere mais abaixo é apenas o último de uma longa série), da nossa incapacidade para fazer contas e interpretar correctamente os resultados obtidos. Esquecemos também que, independentemente do que vier a acontecer, há mudanças que temos de implementar, com Merkel ou, mais ainda, sem ela. E esquecemos que, sendo certo que na semana passada, por exemplo, Merkel exagerou, ao sugerir que se cortassem dias de férias e subisse a idade da reforma em Portugal, retórica para eleitor ouvir não é exclusivo dela nem dos alemães. Afinal, temos por aí um candidato a Primeiro-Ministro, homem sobejamente conhecido por falhar objectivos, líder de um dos partidos mais bem colocados para ganhar as eleições, declarando não ter de fazer exactamente o que se comprometeu a fazer, mesmo quando o seu ainda Ministro das Finanças e «amigo para sempre» diz o contrário. Algo que deve tranquilizar imenso a Sra. Merkel, os restantes alemães e todos os outros que desconfiam de nós. Seria bom que ao menos nos lembrássemos de que as notícias viajam em ambos os sentidos.

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