Devemos confiar nos eleitores
A derrota histórica do PSOE, de Rodríguez Zapatero, nas eleições autonómicas e municipais de ontem confirmou que não é possível iludir durante demasiado tempo o eleitorado. Este monumental castigo nas urnas que antecipa o fracasso dos socialistas nas próximas legislativas é um merecido castigo para a incompetência governativa do homem do eterno sorriso, que prometeu uma Espanha mais justa e afinal - sorrindo sempre - deixa uma Espanha mais pobre, mais ineficiente, com maiores assimetrias, com menos prestígio internacional. Uma Espanha à beira da penúria, com cinco milhões de desempregados (marca acima do dobro da média europeia, marca nunca vista num país que se orgulhava de figurar entre as dez potências industriais do planeta) e onde 45% dos jovens não conseguem encontrar trabalho.
Zapatero, com o seu afã "modernizador", viveu obcecado com medidas de "engenharia social" enquanto deixava a economia naufragar, surdo a todos os avisos. Como se vogasse numa realidade paralela, à semelhança de certas personagens dos filmes de Pedro Almodóvar. Teve o que mereceu na jornada eleitoral de ontem. Os socialistas foram derrotados nas 13 comunidades onde se votou (resta-lhes, ao nível de governos autonómicos, a Andaluzia, um feudo de sempre que ainda só aguentaram por ontem não ter ido a jogo) e nas 20 maiores cidades de Espanha. Perderam bastiões históricos como Barcelona (para os nacionalistas catalães), Sevilha, Cáceres e Las Palmas (para o Partido Popular). E a Corunha (também para o PP) e San Sebastián (para os independentistas bascos). Sofreram a maior derrota de que há memória em Madrid (25% atrás do PP). Perderam em Valência, Múrcia, Mérida, Saragoça, Valladolid, Vitória, Logroño, Santander, Oviedo, Vigo, Santiago de Compostela, Pontevedra, Málaga, Granada, Burgos, Bilbau, Pamplona e Palma de Maiorca. Deixaram fugir autonomias onde governavam há décadas, como Castela-La Mancha, Aragão, Astúrias e Baleares. E poderão aguentar-se apenas na Extremadura, onde ficaram em segundo, graças ao apoio dos comunistas, por um punhado de votos.
Como lhe chamou o El País, foi um "tsunami" eleitoral, que funcionou fundamentalmente como um plebiscito ao ainda chefe do Governo. Os espanhóis - de todas as Espanhas - mostraram bem o que pensam: Zapatero é parte do problema, não da solução. E de nada lhe valeu a mais recente expressão de oportunismo político, tentando colar-se à manifestação dos jovens "indignados" de Madrid, dizendo que se tivesse 25 anos se juntaria a eles. Raras vezes me lembro de uma declaração tão demagógica da boca de um político. Como se os jovens que hoje se rebelam contra a classe política espanhola não estivessem assim, em grande parte, devido à incompetência do Executivo Zapatero.
Nesta hora de mudança, o exemplo espanhol merece registo. Devemos confiar sempre no veredicto dos eleitores.