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Delito de Opinião

Sócrates e os tiros nos pés de um banal político

Rui Rocha, 23.05.11

 

O facto verdadeiramente novo do actual período eleitoral é a sucessão de tiros que José Sócrates e o aparelho socialista têm disparado contra os seus próprios pés. De facto, os últimos dias foram férteis em abalos de magnitude variável. Um primeiro sinal de descontrolo foi dado quando Sócrates repreendeu, de forma arrogante, o empresário Peter Villax. Depois, o debate com Passos Coelho veio demonstrar que o Primeiro-Ministro não é imbatível em duelos televisivos. E o certo é que esse não foi o único debate que Sócrates perdeu. Entretanto, o fim-de-semana prosseguiu na mesma  toada. O fait-divers dos outdoors, mais do que ter importância por si mesmo, vale sobretudo como testemunho de  desnorte (novidade) e incoerência de discurso (já tradicional) na caravana socialista. Mais grave foi o recurso a figurantes arregimentados na comunidade imigrante. Muitos deles, sem direito a voto, passaram a ser a imagem de um partido que não olha a meios para transmitir uma aparência de mobilização. Os sacos azuis do lanche, pousados no chão, constituem uma imagem que há-de perseguir José Sócrates sempre que este se auto-intitular campeão do estado social. Entretanto, Sócrates ainda teve tempo para invocar a doutrina social da igreja e para ameaçar os eleitores com o fantasma do regresso da educação da ditadura. Tudo sinais de uma fuga em frente própria de quem vê o tempo a fugir-lhe.  E o Domingo não chegou ao fim sem mais um valente trambolhão. Questionado pelos jornalistas, Sócrates declarou que aceitaria Passos Coelho e Portas como seus ministros. Não faltarão fanáticos a defender que se trata de (mais) uma magistral jogada política de Sócrates. Em rigor, não é assim. Aceitar Passos como ministro implica uma contradição insuperável com o argumentário recente do PS. Das duas, uma. Ou Passos não é tão mau como Sócrates o pinta e tais argumentos são falsos, ou Passos é realmente mau e aceitá-lo no governo revela as intenções de um Sócrates capaz de tudo para se manter no poder. Em qualquer caso, o facto de não se declarar disponível para, na situação inversa, ser ministro de Passos Coelho certifica a arrogância de alguém que avalia as soluções tomando o seu interesse pessoal como único critério. Visto isto, a lenda do animal político não sobreviveu às primeiras situações em que foi realmente testada. Na verdade, o desempenho de Sócrates tem estado muito mais próximo do de um banal político. Preso numa teia de contradições e incompetência e incapaz de alterar um discurso estafado e repetitivo que, manifestamente, não está a funcionar.

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