Passado presente (CCCXXIII)
Já fui a muitos encontros do género. De alguns gostei, outros desiludiram-me. Nem sempre é bom conviver com o passado assim que se esgota a adrenalina da primeira meia-hora. Mas este foi diferente, porque reuniu gente que eu não via desde o tempo em que esperava com impaciência por mim, de SG filtro nos dedos e bornal à tira-colo. De modo que reencontrá-los foi um daqueles paradoxos temporais que não se explicam. Com treze anos e a mostrar as fotos dos filhos. Casados, alguns pela segunda e terceira vez e ainda com medo de não saber dar o primeiro beijo.
O tempo fez-nos um favor, conservou-nos bem. Por isso foi fácil reconhecermo-nos, desembaraçar-nos dos fios de cabelos brancos, da atitude, das rugas de expressão, entre outra tralha que nos podia atrapalhar, e voltarmos a ser todos parvos.
Ainda hoje, quando me sinto mesmo feliz, faço coisas parvas. E agora, que penso nisso, acho que foi com eles que aprendi que felicidade, quanto mais parva, melhor.
Ando desde esse dia com uma miúda, que conheço de umas fotos bafientas, atrás de mim. Um dia destes tenho de voltar a pô-la no armário, deixar de procurar temas dos Bee Gees no You Tube e preocupar-me novamente com a execução do acordo financeiro e as eleições e o futuro, enfim com aquilo que interessa.