Museus
Nesta quarta-feira, dia 18, comemorou-se o Dia Internacional dos Museus. Quase todos, gratuitamente, permitiram a entrada nas suas exposições. Apesar de este ano não ter aproveitado esta situação partilho aqui algumas reflexões acerca da função e actualidade dos museus.
Partindo de uma atitude de simples acumulação de objectos os museus nasceram com o objectivo de classificar esses mesmos objectos dando-lhes uma ordem, protegendo-os e valorizando-os. Mas só após a Revolução Francesa e o desenvolvimento dos nacionalismos se passa da ideia de colecção à de património contribuindo para reforçar as identidades colectivas em formação (não podemos esquecer as campanhas de Napoleão que encheram os museus franceses de peças “do império”). Mas, apesar dessa vocação democrática, de abertura ao povo, os museus apresentam-se em grandes palácios com escadarias monumentais que impressionam e restringem o acesso. Só bem mais tarde, já no séc. XX, se abandona a noção do museu como um templo ou um instrumento de educação e cultura ao serviço do poder instituído para se pôr ao serviço da sociedade, através, por exemplo, da participação da comunidade mais próxima, abrindo-o a exposições temporárias que reflectem a visão de determinados grupos unidos por questões profissionais, de idade, de interesses.
O museu, hoje em dia, já não é o local onde se vai em dias de chuva, quando não há nada mais interessante para fazer, espreitar para vitrines cheias de pó e onde não se pode tocar, falar, rir; mas um espaço apelativo que oferece múltiplas escolhas e que está ao serviço do público.
Mas para que esta situação seja real, o que vemos num museu tem que ser apresentado de modo claro e não hermético, articulando os objectos uns com os outros e com os contextos que os tornam perceptíveis.
Mas, sendo assim, quais os critérios para a escolha dos objectos que são dignos de serem conservados e expostos? Sobretudo numa altura em que a noção de património se alargou a quase tudo, da obra de arte reconhecida até aos objectos do quotidiano doméstico, até às memórias pessoais. E as formas podem ir da pintura e escultura clássicas ao património musical, às tradições orais de determinada comunidade, do material ao imaterial. Ora se tudo é património onde se poderá conservá-lo, exibi-lo? Numa altura em que o número de museus continua a aumentar a discussão de questões como estas parece importante. Não se estará com este alargamento a contribuir para o desaparecimento dos próprios museus, pelo menos da forma como têm sido entendidos até aqui?