Convidada: FRANCISCA PRIETO
20+20 é muito diferente de quarenta
Há um par de semanas uma grande amiga minha comemorou a sua chegada à meta dos 40. Ao invés de se lançar em festividades pomposas, optou por oferecer uma simples ceia aos amigos do coração.
Estou a falar de uma bela rapariga que, dois filhos depois e com algumas chatices pela vida, preserva intacto o sentido de humor e o ar jovial.
O marido, a quem os anos e os litros de cerveja aumentaram consideravelmente o perímetro abdominal, quando chegou a altura de se cantar os parabéns, lançou uma risadinha e, à laia de piada, gritou alarvemente “é agora que eu te troco por duas de 20”.
Em defesa da aniversariante, e porque era um facto evidente, apressei-me a atirar de volta um “para isso era preciso que houvesse duas de 20 anos que te quisessem para alguma coisa”. E não me inibi de lhe relembrar que, há bem pouco tempo, uma amiga da sobrinha de 18 anos, tinha proferido uma frase qua ficou nos anais: “Aquele teu tio tem ar de quem foi giro quando era novo.”
Os convivas rebentaram em gargalhada geral e o assunto ficou por ali. Mas depois fiquei a pensar neste velho mistério de haver homens que chegam realmente a trocar as suas companheiras de vida por mulheres muito mais novas.
Um casamento é um processo. É verdade que começa pela fase “Lua de Mel”, mas vai gradualmente ganhando peso à medida que os anos se desenrolam. A fase dos filhos pequenos é a travessia do deserto, mas vivemos com a miragem de que dias mais fáceis chegarão.
Que haja gente que não se aguente, é perfeitamente compreensível. Nem todos temos vocação para expedicionário e é natural que desatemos a embirrar com o companheiro de viagem.
O que não consigo perceber é que se troque esse companheiro por outro que está em pleno ponto de partida, a léguas do nosso azimute.
Isto para dizer que, se o meu marido me trocasse por uma miúda de 20, me limitaria a achar que estava meio louco ou com areia na cabeça.
O que me lixava mesmo era se ele me trocasse por uma trintona mais enxuta.