'Rei' Larry: uma lição de vida
Tive o privilégio de assistir a uma magistral lição de jornalismo, pronunciada por um dos maiores especialistas da matéria: Larry King, brindado com uma prolongada ovação em pé ao fim da manhã de hoje no Centro de Congressos do Estoril, onde foi o principal orador do dia. O mais célebre entrevistador do planeta, que durante um quarto de século foi o rosto mais conhecido da CNN, mostrou-se igual a si próprio: divertiu-se e divertiu o auditório, comoveu-se e comoveu a plateia neste segundo dia das Conferências do Estoril. Mal chegou, tirou o casaco. "Now I'm feeling at home", declarou, entre risos, enquanto exibia os suspensórios que se tornaram uma das suas imagens de marca. À conversa com Mário Crespo e diversos outros participantes, deixou algumas mensagens que merecem registo. Desde logo, esta: "Nunca sabemos tudo. Só sabemos um bocadinho. Aprendo coisas novas todos os dias." Ele, que deu os primeiros passos no jornalismo em 1957, ainda hoje não entende em pormenor "como se faz a radiotransmissão em apenas um segundo" das suas palavras por todo o mundo.
Larry King trouxe ao Estoril outras mensagens importantes. Esta, por exemplo: "Ninguém aprende nada enquanto está a falar." Nada mais certo. E também esta: "Nunca utilizo o termo eu numa entrevista." Mensagens que bem merecem ser meditadas num país em que tantos narcisos medíocres peroram durante horas a fio à frente dos microfones sem terem verdadeiramente nada a comunicar.
Um momento emocionante? Aquela emissão em que reuniu Yasser Arafat, o rei Hussein da Jordânia e o primeiro-ministro de Israel para discutirem o futuro do Médio Oriente. "Foi um momento de diplomacia internacional", confessa este veterano de 50 mil entrevistas, que mesmo após a retirada dos ecrãs, em Dezembro passado, continua a confessar uma paixão sem limites pela comunicação. "Nunca me aconteceu ficar sem perguntas por fazer´. Quando não há outra, é sempre possível perguntar 'porquê'? Podemos estar o dia inteiro a perguntar porquê."
Estive entre os que o aplaudiram sem reservas. Ontem escutei com gosto Howard Dean e Nouriel Roubini, hoje ouvi igualmente com atenção Francis Fukuyama. E amanhã estarei entre os que assistirão às conferências de Dominique de Villepin e Mohamed ElBaradei: bastaria a presença destas personalidades para justificar o sucesso desta segunda edição das Conferências do Estoril. Mas, para já, nenhuma me tocou tanto como Larry King, este jovem de 77 anos que continua a ser uma pessoa "de uma curiosidade sem limites" e tem como plano de vida "tornar-se a pessoa mais idosa à face da Terra".
Não foi só uma lição de jornalismo: foi também uma lição de vida, 'King' Larry.