Convidado: JOSÉ PEDRO LOPES NUNES
Pagar as dívidas
Portugal não é um país rico. Penso que grande parte das pessoas aceitará a veracidade desta afirmação. Como corolário deste conceito, poderemos dizer que Portugal não pode, nas condições actuais, providenciar aos seus cidadãos todos os serviços que alguns países ricos colocam à disposição dos seus próprios cidadãos.
Endividar o país, de forma a sustentar um estado social típico de países europeus com riqueza muito superior à nossa, tem sido a política dos últimos anos, mas dificilmente tal política será defensável, e, ao que tudo indica, não será financeiramente sustentável num futuro muito próximo.
A questão de saber se Portugal se deve endividar de forma a adoptar políticas económicas “anti-cíclicas” deve subordinar-se a uma filosofia e a uma ética geral, e não o contrário. Como exemplo, tomemos o caso do esclavagismo. Não interessa discutir os aspectos económicos do esclavagismo, por exemplo nos EUA do século XIX. Mais do que saber se o esclavagismo apresentava bons ou maus resultados económicos, devemos aceitar que o esclavagismo era errado e devia ser abolido, tal como sucedeu. A filosofia tem que se sobrepor à economia.
No actual caso português, devemos aceitar que o endividamento é intrinsecamente errado, independentemente dos efeitos económicos do mesmo (os quais, a propósito, não têm sido bons). Portugal tem que caminhar, muito rapidamente, para um orçamento com superavit, de forma a começar a eliminar as suas dívidas - idealmente, já em 2012. Essa é a única filosofia correcta, e está acima de quaisquer outras considerações.
Trata-se de uma filosofia que tem a ver com a dignidade do país, que não poderá continuar a ser visto como um país que tudo o que sabe fazer é gastar dinheiro, seja das especiarias, do ouro do Brasil ou da Europa.
Em consequência do exposto, é urgente começar a desmantelar muitas estruturas do estado português que não sejam consideradas essenciais à existência do país enquanto entidade independente. Todos gostaríamos de viver num país que pudesse ombrear com os melhores do mundo. Tal não é, neste momento, possível. Para sobrevivermos, teremos de seguir as palavras de Mário Soares, em meados da década de 1970: "Nós temos de nos habituar a viver com aquilo que temos. Esta é a verdade fundamental. Portugal tem de se habituar a viver com aquilo que tem."
Como país, devemos procurar mostrar a nossa dignidade, não deixando degradar mais a nossa imagem junto do resto do mundo. É algo que devemos aos que estiveram antes de nós e aos que vão estar depois de nós.
Em relação à próxima campanha eleitoral, sou de parecer que o PSD, enquanto partido alternativo ao PS, deve tomar como seu o lema “PSD, o partido que vai pagar as dívidas”. Pagar as dívidas do país, lavar a face. Reparar os erros dos outros - outros que agiram em nome de todos nós e mandatados por nós. Trata-se de um imperativo ético e histórico. Ao povo português, o PSD deve dizer, tal como W. Churchill disse aos britânicos, “Give us the tools, and we will finish the job”. Os instrumentos necessários são os votos nas urnas, e o trabalho, a salvação e a regeneração do país.