Diário irregular
21 de Abril de 2011
O dia nasceu em estado pré-catatónico. O caso não é para menos. O jogo de ontem até um gentio arrasa. Uma equipa profissional de futebol devia ser um conjunto de pessoas treinadas, de desportistas bem preparados para a sua função. Um grupo de individualidades trabalhando para um objectivo comum. Os onze que ontem jogaram contra o Porto não foram uma equipa. Estiveram mais perto de ser um bando de moleques desorganizados, desajeitados, tristes e sem ponta de profissionalismo. Eles e o seu treinador. Este com mais culpa do que aqueles. Porque de um treinador que foi campeão nacional na época passada e que com a mesma equipa chega à 27ª jornada do campeonato a 19 pontos do principal rival, e que é eliminado, na sua própria casa, num jogo disputado a duas mãos, depois de ter ganho o primeiro por 2-0, só se pode dizer que não atingiu os mínimos. E então se se pensar que em 5 jogos com esse mesmo rival sofreu 13 golos e marcou 4, tendo perdido sucessivamente a Supertaça, o Campeonato Nacional e a Taça de Portugal, e que ainda teve a ligeireza de dizer que a equipa esteve bem e que por pouco não ganhou as duas últimas competições, ou anda a gozar com o clube ou é incompetente. Em qualquer caso, só lhe resta um caminho: ou vence a Liga Europa e a Taça da Liga, para salvar a época, ou pega na trouxa e vai tratar das madeixas.
Uma sondagem, conhecida ontem e divulgada esta manhã, está a irritar muita gente. E não é o facto de a amostra ser de apenas oito centenas de pessoas ou pouco mais que a irrita. Não deve ser agradável acordar de manhã e perceber, a pouco mais de um mês das eleições, que não será possível livrar-se do Eng. Sócrates. As ajudas de Cavaco Silva, do PEC 4, dos oradores no último congresso do PS e da dita “troika”, para já não contar com os tiros nos pés que o engenheiro continua a dar, não lhe servirão para nada. Vamos ficar como estamos. Mal. Esta é a nossa sina. A gente continua a desconfiar do percurso político e profissional de que o Dr. Passos Coelho tanto se orgulha. Mais ainda depois daquela cena de sonso de que não voltaria a reunir-se a sós com José Sócrates. Ter estado depois disso com “a miúda”, ao lusco-fusco, outra vez a sós, tê-lo escondido de todos durante tanto tempo e ainda querer disfarçar quando foi apanhado pela Judite, não foi de cavalheiro. Mesmo que tivesse lá ido com uma “gabardina” emprestada pelo Dr. Relvas e o quisesse proteger. Admira-me como é que ele não desce ainda mais depressa nas sondagens.
Quem não está com meias-palavras, nem precisa da “gabardina” do companheiro Relvas, é António Capucho. A carta que escreveu não é a de um homem despeitado. Longe disso. Capucho tem uma estatura intelectual e política a que Passos Coelho ou Miguel Relvas nem em sonhos chegarão. Porque não foram talhados para isso e porque o caminho trilhado fala por eles. E Capucho não precisa de ter um comportamento moluscóide para se afirmar politicamente, porque já o fez há muito tempo. Como também não necessita, depois de uma vida dedicada à coisa pública, de trocar princípios ou votos de consciência por sinecuras prazenteiras. Isso dá-lhe autoridade moral e política e confere dimensão à sua posição. Compreendo que os votos finais da carta possam soar a falso, mas vejo-os antes como uma pequena ironia. De Pacheco Pereira, como são ignorantes e só olham de transverso, dizem que é do contra. Não gostam dele. É “intelectual”. Que dirão agora de António Capucho? Ele que chegou ao Conselho de Estado pela mão de Cavaco Silva. Será que o vão acusar de estar a soldo de José Sócrates, como fizeram com Basílio Horta? Dessas rémoras que vivem agarradas às protuberâncias dos barões dos partidos é possível esperar tudo. Em especial a canalhice.