Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

E não ficaremos por aqui

Sérgio de Almeida Correia, 15.04.11

"Era o cúmulo? Não. Faltava ainda Fernando Nobre." - Vasco Pulido Valente, Público

 

Há mais de uma dezena de anos, e a propósito de uma lei infame, apadrinhada pelo então Governador de Macau e aprovada pela respectiva Assembleia Legislativa, escrevi um artigo para o semanário Ponto Final que intitulei "O triunfo da asneira".

Mais de uma década volvida, o mesmo título dá o mote ao artigo de hoje de Vasco Pulido Valente. E é um título apropriado ao momento que vivemos.

Depois de tudo o que já aqui foi escrito, inclusivamente por gente insuspeita (e sensata) de direita, depois do que os seguidores de Fernando Nobre, ou melhor dizendo, os seus ex-seguidores, escreveram no Facebook sobre a atitude do personagem que ainda há meia dúzia de semanas serodiamente idolatravam, não esquecendo o que se escreveu no editorial do último número da Sábado nem as declarações de Pacheco Pereira e Lobo Xavier na SIC-N, poucos seriam os que ainda acreditavam que dali para a frente, e até 5 de Junho, Passos Coelho não cometeria mais erros. Pelo menos do calibre daqueles que já são conhecidos. Nada de mais errado.

A divulgação dos cabeças de lista do PSD para as legislativas é mais uma achega para o conhecimento da face mais peronista do jovem líder de Massamá.

Qualquer potencial eleitor, minimamente inteligente, poderá pensar que Francisco José Viegas, Carlos Abreu Amorim ou Manuel Meirinho poderiam ser boas apostas. São gente com a sua própria história, cujos méritos não se devem à política, ao PSD ou a Passos Coelho, e não se lhes conhecem razões que não os recomendassem como candidatos a deputados. Bem pelo contrário, é conhecido o seu empenhamento cívico e todos teremos a ganhar com a inclusão de gente como eles nas listas. Porém, quem assim pensa, ao mesmo tempo, não poderá ignorar que entre, por exemplo, Francisco José Viegas e, por exemplo, os indigitados cabeças de lista por Faro (o "poeta" Mendes Bota), Santarém (o "fura-vidas" Miguel Relvas) ou Madeira (o "irreformável" Alberto João Jardim) nem sequer o verbo é comum. Bem sei que Viegas poderá dar umas lições de português a Bota, que Meirinho poderá ensinar a Relvas o que é o sistema político e para que serve um partido e Amorim poderá impor o cabedal junto de Jardim para lhe fazer ver que para governar é preciso algo mais do que um tirocínio no Chão da Lagoa e saber dar umas "murraças" na oposição. Mas a inclusão desses respeitáveis nomes ao lado dos outros, a começar por Fernando Nobre (será que já lhe compuseram mais uma daquelas canções sebosas para promover a candidatura?), revela o desequilíbrio estrutural do actual PSD, o desequilíbrio das escolhas, o desconchavo programático, a errância de uma direcção que não poderá ser disfarçada com a anunciada inclusão nas listas de um candidato de apelido Norte (chefe de gabinete de Macário Correia na Câmara de Faro). 

Bem sei que, no que respeita ao PS, com uma ou outra excepção, como seja uma lista no Porto encabeçada por Francisco Assis - um homem com quem o País poderá contar ainda mais tão logo ele modere o ímpeto e o estilo discursivo -, que o que já se conhece será mais do mesmo, com a agravante de se repescarem nomes, num partido que precisa de se renovar como de pão para a boca, como o do "estrangeirado" Ferro Rodrigues, ou de se chegar ao ponto de se ter como cabeças de lista um Paulo Campos ou um António Serrano. Quem?

O Congresso do PS, nos moldes em que decorreu, já não augurava nada de bom. E se o que Manuel Maria Carrilho escreveu é absolutamente irrelevante, não sendo ignorável, o mesmo não de poderá dizer das tomadas de posição de gente tão insuspeita como Marta Rebelo ou Medeiros Ferreira.

Não obstante, todos temos a certeza de que, qualquer que seja a composição do futuro parlamento, a democracia, esta que temos e que Otelo  renega, com ou sem FMI/FEEF, está moribunda. Talvez seja a única certeza que a crise nos deixa ter.

Em matéria de más notícias, para maior desgraça nossa e até ao lavar dos cestos na antecipada vindima de Junho, não ficaremos por aqui. Sabendo-se nesta altura que a asneira está em grande, só nos falta saber se o triunfo que em 5 de Junho a consagrará será, tal como aconteceu em Macau e com Orwell, acompanhado do triunfo dos porcos.   

 

Em tempo: Estamos quase na Páscoa. Teremos eleições dentro de menos de dois meses. E há três equipas portuguesas nas meis-finais da Liga Europa. Os comentários regressam hoje. Depois de 5 de Junho logo se verá se continuam.           

5 comentários

Comentar post