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Delito de Opinião

Em estado de choque

Pedro Correia, 15.04.11

 

 

Fernando Nobre anda a ser criticado, vejam lá, por faltar à palavra: disse que não se envolveria com nenhum partido e acabou por aceitar figurar como independente nas listas do PSD. Quem o critica, em grande parte, é gente que acha muito bem haver um primeiro-ministro que agora governa com o FMI quando há poucos dias jurava que não governaria com o FMI. "Continuarei a dar o meu melhor para que Portugal possa escapar a esse cenário. Lutarei para que isso não aconteça", declarou o primeiro-ministro em entrevista à RTP, na noite de 4 de Abril, justificando assim esta intransigência: "Um pedido de ajuda externa significaria que o País perderia reputação e prestígio." Quarenta e oito horas depois, dava o dito por não dito.

Quem critica Nobre, em boa parte, é gente incapaz de contestar o secretário-geral do PS, que levou ao recente congresso do partido uma moção estratégica em que se rejeitava expressamente um auxílio financeiro de emergência a Portugal. "Eu não estou disponível para governar com o FMI", declarou alto e bom som o secretário-geral dos socialistas, a 19 de Março, com aquele ar de convicção estudada com que diz tudo e o seu contrário. Quando a moção foi votada e aprovada, em pleno congresso, estava já ultrapassada pelos acontecimentos: o mesmíssimo secretário-geral que negava a necessidade de intervenção estrangeira nas finanças portuguesas acabara de solicitar a referida ajuda externa. Cambalhotas atrás de cambalhotas, trapalhadas atrás de trapalhadas. Sem um sussurro crítico de muitos daqueles que agora se confessam chocados com as incongruências de Nobre.

Eu, por mim, não me choco com a duplicidade de critério destes incongruentes, que em larga medida cumprem uma antiquíssima tradição do servilismo lusitano: é de bom tom evitar qualquer crítica ao Governo. Choca-me, isso sim, que Portugal esteja à beira da bancarrota - e que, segundo as estimativas do FMI, venha a ser o único país da União Europeia em crise persistente no próximo ano.

De uma coisa tenho a certeza: não foi Fernando Nobre quem conduziu Portugal a este cenário de ruína.

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