O comentário da semana
«Numa família de professores (desde o básico ao superior) praticamente todos os dias debatemos ideias, partilhamos experiências, estratégias e frustrações não apenas enquanto profissionais (raramente ouvidos e frequentemente incompreendidos), mas também enquanto pais e cidadãos participativos.
Os jovens são o nosso quotidiano, a nossa imagem (talvez idealista) de quem somos enquanto por cá andamos. Supostamente, para além da família (quando existe), somos nós que nos preocupamos com eles, somos nós que os ouvimos e quantas vezes somos nós que tentamos fazê-los pensar por eles próprios.
Enfim, nos dias que correm e à medida que a crise moral e económica se agudiza, são eles que espelham o verdadeiro caos em que se encontra o país e o mundo.
Problema nº 1: Baixa taxa de natalidade.
Ora se em 2010 Portugal registou o número mais baixo de nascimentos das últimas décadas, uma tendência que se tem vindo a acentuar há pelo menos 25 anos, espera-nos muito em breve um outro deficit - renovação populacional - com tremendas consequências tanto para o país como para os cidadãos no activo. Ex: Quem pagará as nossas reformas?
Problema nº 2: Idade da Reforma.
A idade da reforma tem-se prolongado para além do razoável, em nome de todas as crises.
E enquanto não nos reformamos, muitos de nós, cidadãos cansados, sacrificados, desiludidos e atemorizados pela precariedade, insegurança e dependência dos nossos descendentes, arrastamo-nos para as nossas actividades, muitas vezes já sem a "produtividade" do antigamente. E enquanto nos arrastamos, os mais jovens não têm ocupação ou, se a têm, ela é temporária, ou insuficiente, sem quaisquer regalias ou direitos.
Problema nº 3: Abandono da escola.
Num país que se diz europeu, com uma elevada taxa de abandono escolar, pressupõe ser um país sem rumo, desorganizado e sem liderança, nem esperança, logo a escola tal como está "organizada" tende a não oferecer respostas práticas aos jovens que a frequentam. Continuará a ser um local de encontro de colegas, de amigos e/ou mais um depósito.
Problema nº 4: Nível de instrução global e emigração.
Maioritariamente os nossos empresários têm habilitações académicas e profissionais muito baixas que não se coadunam com os jovens recém-diplomados, factor que à partida favorece a emigração, entre muitos outros.
Assim,
1º) Sabendo de antemão que é necessário não haver só vontade política para um diálogo franco com todos os intervenientes na educação nacional mas, também tempo para se processarem reformas que urgem há décadas, nomeadamente a reorganização escolar na pós-modernidade (tecnológica e consumista).
2º) Ao Estado compete apenas o papel de orientador e organizador, de forma a elucidar capazmente todos os agentes educativos, no rumo e nos recursos humanos necessários ao país. Falhou e agora sofremos todos com os potenciais novos profissionais numa espécie de limbo; ou somos deficitários tendo de recorrer ao exterior; ou perdemos os nossos "cérebros" por falta de empreendedorismo.
3º) Há ainda a compartimentação da própria escola, ou seja o início do básico está isolado do nível superior seguinte, tal como o secundário está isolado do nível superior seguinte, assim como o superior está actualmente isolado do nível superior seguinte, os estágios e vice-versa. Em suma, a escola está definitivamente compartimentada e isolada da comunidade interior e exterior o que é inaceitável.
Em face desta breve exposição e na minha modesta opinião os planos que o Prof. ABC [António Balbino Caldeira] sugere apenas vão adiando a entrada dos jovens na vida profissional, embora de certa forma possam ajudar parcialmente. Dou-lhe um exemplo: um filho meu fez uma licenciatura pré-Bolonha numa vertente do design e comunicação multimédia. Estavam inicialmente previstos estágios, com protocolos entre a universidade e várias empresas públicas e/ou privadas. No final não existiam quaisquer empresas. Resultado, não houve estágio. Sem estágio, não houve emprego (as sugestões foram sempre no sentido de um a dois anos sem remuneração nem subsídio de deslocação e ou refeição). Passou à fase seguinte, mestrado, especialização na mesma área mas no âmbito da educação. Resultado, veremos se terá colocação. Se não tiver, será mais outro a emigrar!»
Do nosso leitor Skeptikos. A propósito deste texto do António Balbino Caldeira.


