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Delito de Opinião

Zapatates e Socratero (ou talvez não)

Rui Rocha, 02.04.11

O Presidente do Governo espanhol, Rodriguez Zapatero, anunciou hoje que não será o candidato do PSOE nas eleições legislativas que terão lugar em 2012. Nos últimos meses, várias vezes foram salientadas as semelhanças de percurso entre Sócrates e Zapatero. Os líderes dos dois partidos socialistas ibéricos mantiveram, de facto, uma relação difícil com a realidade, negando a evidência do descalabro da gestão governativa. Ambos protagonizaram uma visão despesista do Estado, mais orientada para a satisfação de clientelas do que para os reais interesses da população. Um como outro proclamaram-se, de forma cínica e com evidente falta de pudor, como defensores do Estado Social. Isto, enquanto os seus governos iam minando, na prática, a viabilidade do próprio modelo. Se o percurso foi semelhante, importa neste momento reconhecer algumas diferenças plenas de significado. Desde logo, Zapatero, apesar de renitente, foi muito menos teimoso e imprevidente do que Sócrates na abordagem à crise. Há precisamente um ano atrás, a Espanha tomou e executou decisões de corte da despesa classificadas, à época, como muito violentas. Sócrates assobiou para o ar, convencido de que o tempo remediaria o desconcerto. Perdeu tempo e comprometeu definitivamente a confiança dos mercados. Neste momento, Portugal afunda-se e a Espanha começa a ver luz ao fundo do túnel. A outra diferença fundamental relaciona-se precisamente com a forma escolhida para abandonar o poder. Zapatero renuncia. Sócrates permanece incrustado na sua irredutibilidade. Zapatero convenceu-se de que a quebra de confiança do eleitorado espanhol o impede de protagonizar uma solução para problema. Desta forma, permite ao PSOE e à sociedade espanhola trilhar o caminho da renovação política. Quanto a Sócrates, tornou-se ele próprio num problema sem solução. Indiferente ao facto de ser o principal factor de bloqueio da situação política, mantém o PS refém da sua liderança e insiste numa visão unipessoal de irresponsabilidade ilimitada da democracia portuguesa. 

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