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Delito de Opinião

Crisis 'R' Us

Rui Rocha, 24.03.11

Estamos então como antes. Pobres e endividados. A diferença é que agora não temos governo e antes estávamos desgovernados. A crise política, diz-se por aí, pode precipitar o pedido de ajuda externa e a intervenção do FMI. Imagino que o FMI seja como o Pai Natal, mas ao contrário. O Pai Natal traz prendinhas aos meninos que se portaram bem durante o ano. O FMI traz medidas duras aos países que fizeram asneiras durante anos. É importante ter isto presente no momento de repartir responsabilidades pela situação actual. O que tínhamos era um copo cheio. E não existem grandes dúvidas sobre quem o encheu. Seis anos consecutivos de governação não podem passar em claro. A crise política que se vive terá então, quando muito, o significado de o fazer transbordar. A culpa é de Sócrates ou de Passos Coelho? Não faltam por aí as teorias mais variadas. Não devemos, todavia, perder a noção da realidade. A importância destas teorias deve reconduzir-se à dimensão que lhes cabe: a de reflexões sobre uma gota de água. E existem ainda outros pontos que importa sublinhar. O primeiro é o da certeza, fundada numa sucessão prolongada de factos desastrosos, de que aqueles que encheram o copo continuariam, independentemente da crise política, a meter água até o fazerem transbordar. O segundo é da convicção, também baseada em atitudes ostensivas e reiteradas, de que o copo já teria transbordado há muito se as contas públicas reflectissem com rigor o estado actual do país, tal como não aconteceu em 2010. Cada um de nós é livre de acreditar no que lhe for conveniente. Mas, nem Sócrates e Teixeira dos Santos, com toda a sua incompetência, seriam capazes de abrir um buraco de 80 mil milhões de euros de profundidade se só tivessem começado a cavar depois das 21h00 do dia 23 de Março de 2011.

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