Mentira ou consequência
Luís Amado afirmou hoje que estamos todos a jogar aos dados e que o país merecia estar noutra situação. Em cada um dos lados da barricada levantada em torno do PEC IV correm já interpretações que procuram arremessar para o lado contrário o peso das palavras do Ministro. Mas, uma afirmação inclusiva como esta ("todos") é sempre muito mais pesada para o lado da barricada em que o seu autor se situa. Ainda mais quando a verdade socrática sempre refutou essa responsabilidade e a remeteu para referentes que não se podiam defender (a situação internacional, os mercados), contrapondo-a a aspectos concretos da acção governativa, sempre profusamente propagandeados e pretensamente irrefutáveis, como é o caso da "excelente execução orçamental de 2011". Luís Amado sabe que a credibilidade de uma operação deste tipo, montada em torno da repetição exaustiva de uma mistificação, não sobrevive ao facto de um dos responsáveis pela marca vir expor publicamente dúvidas sobre o produto. Tal como sabia das consequências das suas afirmações quando se distanciou, no passado, de José Sócrates. Mais uma vez, Amado ensaia um movimento em que se afasta da responsabilidade própria de um membro do actual Governo para se aproximar de uma posição de neutralidade, comprometida apenas com o interesse do país. O problema é que essa basculação periódica nunca evoluiu para um lance de ruputura. E isso coloca Luís Amado no lado errado do dilema moral que paira sobre o jogo que está verdadeiramente em disputa. Aquele em que obrigam os portugueses a escolher entre a mentira ou a sua consequência.