O coro dos Calimeros
José Sócrates e Teixeira dos Santos anunciaram a intenção de cortar pensões acima de 1500 euros (reparem que este é, na óptica do primeiro-ministro, o patamar da 'riqueza' em Portugal para quem passou uma vida inteira de trabalho a descontar para o fisco) e congelar as restantes, aceitando um diktakt do Banco Central Europeu, à revelia do programa sufragado pelos eleitores portugueses em Setembro de 2009. Embora saibam melhor que ninguém que não dispõem de maioria parlamentar para o efeito, procederam com a habitual inconsciência característica dos "animais ferozes", apostando tudo na política do facto consumado. Para esse efeito, julgaram desnecessário informar previamente o Presidente da República, os parceiros sociais e o Parlamento, apesar de na véspera Sócrates ter comparecido na sala das sessões da Assembleia da República para o longo debate suscitado pela moção de censura do Bloco de Esquerda. Diálogo? Que diálogo? A irresponsabilidade é de tal ordem que o chefe do Executivo e o ainda titular da pasta das Finanças não consideraram sequer a hipótese de levarem este "pacote de austeridade" (o quarto em menos de um ano) ao Conselho de Ministros, o que diz tudo sobre um estilo de governar.
Este mesmo duo vem agora lamentar-se de ser incompreendido, acusando o PSD de abrir uma "crise politica". Acabo de ouvir outro Calimero de circunstância - o ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão - afirmar que "há sinais que não são encorajadores", também ele de dedo apontado à oposição. Se há frases que se habilitam a receber um prémio destinado ao mais descarado eufemismo, esta é uma delas.
O Governo imita certos futebolistas que adoram simular faltas na grande área adversária, esperando ser recompensados com um imerecido penálti. Azar: neste caso, o País inteiro percebeu quem se atirou para o chão sem empurrão algum. E ninguém parece disposto a beneficiar o infractor. Vem aí cartão vermelho.