Diário irregular
13 de Março
A um mês da sua jubilação, o Prof. Jorge Miranda deu uma excelente entrevista à TSF e ao Diário de Notícias. Mais uma. Simples, directo, pedagógico. Como sempre foi. Se há homem que tenha trabalhado por uma democracia moderna, adulta, culta e civilizada, onde a educação, a justiça social e o mérito fossem exercícios normais do quotidiano, foi ele. Agora vai receber, muito justamente, um prémio que lhe foi atribuído por unanimidade, numa casa onde nem na ditadura tal seria possível. Esse prémio não conseguirá ocultar, porém, a triste realidade de que homens como ele, os melhores que nós temos, são dos menos escutados e ouvidos. Talvez que se o tivéssemos escutado todas as vezes em que o deveríamos ter feito, isto é, pelo menos mais uma dúzia de vezes, com a atenção que ele merecia, a política em Portugal não se transformasse naquilo que é hoje: um porto de abrigo dos cábulas e dos especialistas em ciências ocultas e truques vários, o rosto da indigência social, cultural e intelectual.
Antes era preciso telefonar para garantir uma mesa. Hoje em dia se não reservar não faz diferença. Há lugares com fartura apesar de a casa ser pequena. E mesmo que chegue às 14.30 ainda há todos os pratos do dia. Isto só quer dizer uma coisa: que por cada dia que passa há quem coma pior na sua própria terra.
Em tempo de tristeza e recolhimento vale o “Governo Sombra”. Desta vez o programa foi ao vivo, dando para perceber as reacções, e a satisfação, do público. Ouvintes como eu. O programa passa a horas de pouca audiência e merecia outro palco. A riqueza e a vivacidade do debate fazem-me recordar o Zip Zip e valia a pena pensar, sem mudar o formato para não o estragarem, colocá-lo em horário nobre num canal televisivo. Continua a ser um bálsamo numa terra que tem cada vez mais dificuldade, e ainda menos vontade, em saber rir-se de si, e onde o “infeliz” (mal empregado talento) Bruno Nogueira é visto como um deus do humor. Dos tristes e dos pobres de espírito, evidentemente.
As imagens que nos chegam do Japão, da mesma forma como antes já tinham chegado da Nova Zelândia e há algum tempo mais da Indonésia, não deixam ninguém tranquilo. Controlar a força telúrica ou barrar um maremoto continua a ser pura miragem. Todavia, fica mais um aviso muito sério a todos os que pensavam que o uso da energia nuclear para fins pacíficos seria um caminho possível. Não é. Estamos longe de Chernobyl e da miséria planificada que foi legada pelos czares comunistas da defunta União Soviética. O Japão é do ponto de vista tecnológico, talvez, o país mais avançado do mundo e tem dezassete centrais nucleares. Muito do seu desenvolvimento recente deve-se ao uso da energia nuclear. O terramoto de sexta-feira pôs a nu as fraquezas. Por mais avançada que seja a tecnologia, por mais eficientes que sejam, de acordo com os padrões conhecidos, os sistemas de segurança, ainda não existe maneira de evitar o desastre. Os riscos continuam demasiado elevados. E a única solução suficientemente segura é não recorrer à energia nuclear e tentar encontrar nas fontes de energia conhecidas, nas energias renováveis e numa utilização mais racional dos recursos disponíveis a satisfação das nossas necessidades.
Incompreensível. Só o entendo por puro desespero e pesporrência. A forma como José Sócrates e Teixeira dos Santos negociaram e anunciaram o PEC 4 é a machadada final. Congelar pensões de reforma miseráveis para cumprir as metas do défice não merece comentários. O País já está a pagar. E o PS, caindo no erro quase certo de confirmar dentro de alguns dias a liderança de José Sócrates, vai pagar os últimos dezoito meses da sua governação durante mais um ror de tempo. Se no fim sobreviver o partido nunca mais será o mesmo. Nem Portugal.
“A única coisa que não correu bem foi não termos ganhado”. Estranhos conceitos. Mas haverá alguma outra coisa que importe mais do que a vitória num jogo da liga profissional de futebol e num clube como o Benfica?