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Delito de Opinião

Duas vias para ir a lugar nenhum

Pedro Correia, 03.03.11

 

O José Adelino Maltez tem razão: o maior problema actual do PSD é estar cheio de treinadores de bancada que teimam em ditar a táctica. Ex-líderes do partido e antigos presidentes do grupo parlamentar - alguns com uma notável colecção de derrotas nos respectivos currículos - dedicam-se de momento ao que melhor sabem: disparar contra a direcção em funções. Neste edificante passatempo destaca-se Pacheco Pereira, que em entrevista ao Diário de Notícias da Madeira vem agora criticar Passos Coelho por ter uma "navegação de cabotagem, à vista da costa", e sobretudo pela "falta de consistência" do seu discurso. 

 

Muito bem. Querem um discurso "consistente" de alguém incapaz de "navegar à vista"? Têm o exemplo do próprio Pacheco Pereira. A 11 de Novembro, na Quadratura do Círculo, o ex-estratego da fracassada candidatura de Manuela Ferreira Leite falava desta maneira: "Neste momento o grande factor de perturbação da vida política nacional é o primeiro-ministro. Isso é uma realidade objectiva. Nada está bem nesta frente. Se há coisa que neste momento conhece um processo de descredibilização é o primeiro-ministro e o governo. O primeiro-ministro não tem condições para cumprir nada do seu programa eleitoral. O seu programa eleitoral não existe. (...) A legitimidade eleitoral está muito diminuída pela circunstância do programa eleitoral ter ido rapidamente - do cheque-bebé aos medicamentos gratuitos - por água abaixo. É um facto. Qualquer pessoa de bom senso percebe que o engenheiro Sócrates é um problema, é um obstáculo a qualquer entendimento. (...) Alguém tem de lhe dizer que ele está a fazer mal ao País."

 

Isto foi há quatro meses. Como diz Sócrates, o mundo muda muito em dois ou três dias. Nada mais abrupto. Não admira, portanto, que o Pacheco de Março tenha um discurso muito diferente do Pacheco de Novembro. Agora já considera que a legislatura deve ser cumprida até 2013. "As democracias têm procedimentos e não devemos interromper, traumaticamente, esses procedimentos. Se este governo conseguir manter a execução orçamental acho preferível que continue até ao fim da legislatura. (...) O PSD tem de ser visto como um partido responsável."  Curiosa sintonia: a entrevista de Pacheco Pereira ao DN-Madeira foi publicada escassas 24 horas após José Sócrates ter proclamado isto, na apresentação da sua moção estratégica ao congresso do PS: "Qualquer crise política prejudicaria a economia e o País."

 

Imaginem o cenário equacionado por Pacheco na versão Março mesclada com a versão Novembro: os portugueses desgovernados mais dois anos e meio por esse "grande factor de perturbação nacional" que é Sócrates, alguém cuja "legitimidade eleitoral está muito diminuída" e que "está a fazer muito mal ao País".

Teríamos, portanto, de aguentar este primeiro-ministro até Setembro de 2013. Com Pacheco, esse louvável exemplo de "consistência", a fazer de treinador de bancada na última fila do Parlamento.

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