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Delito de Opinião

Comissão de Serviço VII

Fernando Sousa, 27.02.11

A GARANTIA

 

Os ramos que o Sebastião soltava batiam-me, mas mal os sentia, a caminho do enxame de luzinhas nervosas da cidade. Ali aguentava-me a braços, as árvores dançavam com a noite à minha volta.

Regressava, o único branco da festa, do casamento de Filomeno, numa aldeia de colmo e adobe, onde durante horas comera e bebera à volta de um porco que um grupo de rapazes ia rodando numa fogueira. Acompanhara, copo a copo, todos os vivas ao casal.

Às vezes era o único: – VIVA! VIVA!

Trocava os passos, ria, parava, dava abraços, voltava a rir-me, tropeçava, caía, debaixo de uma lua tão cheia que deixava pouco espaço ao céu. No chão, meio a dormir, desci lentamente sobre o Mar da Tranquilidade.

– E SE A FRELIMO APARECE? – Endireitei-me.

Sentado, com o Sebastião a segurar-me, Ali pôs-se de cócoras, tomou-me a cara entre as duas mãos, olhou  para o companheiro, depois para mim, com uns olhos enormes, e disse-me:

- Meu furriel, a Frelimo não vai aparecer. Posso garantir-lhe. Venha, estamos perto.

 

(Notinhas de uma guerra engolida)

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