Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Os Deolinda estão profundamente errados (no médio prazo)

Rui Rocha, 08.02.11

A discussão sobre o tema dos Deolinda que se diz ser o hino de uma geração está ao rubro. Trata-se, todavia, de uma análise de conjuntura. O bloqueio actual não é um dado estrutural. Bem pelo contrário. Enquanto arrancamos cabelo, estão a acontecer factos de extrema relevância a nível global: i) os baby boomers começaram a reformar-se em 2011. Ao longo dos próximos anos, milhões de boomers abandonarão o mercado de trabalho; ii) o mundo ocidental enfrenta uma crise de natalidade sem precedentes e não existe qualquer indicação de que a situação se possa inverter; iii) nos países ou regiões em que a taxa de natalidade é pujante, persiste um grave problema de qualificações. Nestes casos, o problema não está na escassez de recursos humanos, mas na incapacidade dos sistemas de ensino de prepararem profissionais com as competências necessárias. É o caso paradigmático do Brasil, mas o facto pode ser constatado para todos os países em vias de desenvolvimento. Ora, tudo isto conflui para uma realidade inexorável: a prazo, e a nível global, a procura de profissionais qualificados será muito superior à oferta. Os primeiros sinais estão aí. Em 5 anos, a pressão será significativa. Daqui a 10 anos, será dramática. O poder negocial passará a estar na mão de quem tiver qualificações. Esta é a principal questão estratégica de gestão de recursos humanos para a próxima década. A análise da situação tem assim duas vertentes: uma profunda consciência das enormes dificuldades actuais e uma esperança inquebrantável no futuro. Neste contexto, é fundamental não desanimar e perceber qual a estratégia correcta para responder no momento adequado: i) formação (sempre, muita, cada vez mais, de qualidade); ii) arrendamento (não vão faltar oportunidades; mas, podem não estar na Lourinhã; ninguém deve estar agarrado a uma casa; a oportunidade pode estar no Brasil); iii) soft skills (o conhecimento técnico é muito importante mas, o que vai ser valorizado pelas empresas são o entusiasmo, a auto-motivação, a capacidade de trabalhar em equipa e de promover um bom ambiente, a autonomia, etc.); iv) flexibilidade (a relação laboral poderá não ser unívoca; mas, quem quer trabalhar para uma empresa, se pode trabalhar para várias, que lutam pelo seu conhecimento?; quem quer ter horários rígidos, se pode organizar o seu tempo, gerindo a disponibilidade para a família, para os amigos, para a vida?). A prazo, toda a esperança é, por isso, permitida. E isto envolve total responsabilidade. Daqui a uns tempos, a falta de oportunidades não vai ser desculpa. O Mundo vai precisar de todo o talento disponível e este não vai ser suficiente. Quem tiver unhas e dentes vai tocar guitarra. E não será para entoar a música dos Deolinda.

37 comentários

Comentar post