A degradação do debate político
Na primeira sessão parlamentar que registou a presença do chefe do Governo desde a eleição presidencial, na passada sexta-feira, José Sócrates confirmou a falta de nível de que já deu mostras noutras ocasiões. Depois do 'porreiro, pá', com que brindou Durão Barroso na cimeira de Lisboa e do 'manso é a tua tia' dirigido a Francisco Louçã em São Bento, saiu-lhe agora de forma bem audível um 'Eh pá' em pleno hemiciclo.
Ouço os relatos desta sessão nos telediários e interrogo-me: como querem estes políticos ser respeitados se não se dão minimamente ao respeito?
A tentativa permanente de amesquinhar os adversários, a necessidade imperiosa que sente de mostrar que ainda é um 'animal feroz' (expressão que se lhe colou à pele e diz muito dele), a tentação contínua que revela de confundir as funções institucionais com as de comentador político, regressando aos tempos em que fez tirocínio para secretário-geral do PS num estúdio televisivo ao lado de Santana Lopes - eis características de Sócrates na Assembleia da República, sessão após sessão. Características que contribuem para degradar a qualidade do debate político em Portugal. E depois alguns destes políticos (a começar por ele) ainda se queixam de que os cidadãos andam indiferentes à política...
Andam indiferentes? Ainda bem. É um acto de cidadania mostrar indiferença e até desprezo por esta política e estes políticos.