Grandes momentos de reportagem
1. As reportagens (da SIC e não só) no aeroporto da nossa capital a quem regressa apressada e assustadamente do Egipto incluem uma pergunta que parece ter-se tornado obrigatória: "O que é que sente agora em Lisboa?" A pergunta, insistente à exaustão, é tão inteligente que me cai o queixo de espanto.
2. Sobre reportagens, é caso para não deixar passar em branco a presença do Enterprise ancorado no Tejo. Vi na SIC-N a reportagem do Mário Crespo feita no interior do monstro de guerra norte-americano, um trabalho que achei à altura do que seria de esperar. Já com o que vi na RTP passei-me todo.
2.a) O melhor que um repórter e uma câmara da estação pública fizeram foi ir à margem do rio mostrar o porta-aviões lá ao fundo (que o esforço do zoom deixou a ideia de que tanto podia ser uma traineira como um cacilheiro) e — surpresa das surpresas — pôr-nos a ouvir a populaça que encontraram no local, desde o miúdo com binóculos a dizer que o navio é "um bocado grande" à mulher de meia-idade a explicar que "é grande mas não fico admirada, já vi tanto na vida", passando pelo pescador que lançava a cana à água e respondia que "não, ele não me estraga a pesca que isto também já não dá nada". Como devem ter reparado, o repórter da RTP só abordou o pescador para tentar encontrar um culpado, que a vida é mesmo assim: com peixe ou sem peixe, o jornalismo precisa desesperadamente de um Bibi responsável pela fuga do chicharro. Pois se o homem, coitado, estava ali a esforçar-se tanto e nem conseguira apanhar uma lata de atum, não é verdade?
2.b) Curiosamente (ou não), entre tantos detalhes debitados e papagueados repetidamente como se fosse um guião, não ouvi falar no incêndio a bordo ocorrido no Havai, há 42 anos, nem que este é o oitavo Enterprise dos EUA, etc., etc. pardais-ao-ninho.