RTP promove insegurança
Hoje, traído pelo cansaço, prolonguei a minha estadia no sofá, diante do televisor, para além do Telejornal. Fiquei ali à espera de ver o que aquilo dava. Saiu-me um “Pai à Força”, título que, em circunstâncias normais, seria suficiente para me levar a fazer “zapping”. Não fiz. Fiquei ali, meio pasmado, a ver passar diante dos meus olhos e ouvidos diálogos forçados escritos por um grupo de amadores que se esforçaram (não duvido) para nos proporcionar uns minutos bem passados.
Pelo que percebi, a série gira em volta de um médico solteirão e "bon vivant", mais preocupado em levar as pacientes para a cama do que em zelar pela sua saúde, mas admito que esteja a fazer um juízo errado.
Julgo também ter percebido que esse médico ficou com três crianças a seu cargo, devido à morte dos pais, mas que não está minimamente para aí virado e espera a chegada de um salvador que o livre do pesado fardo.
Bem, mas não é para dissertar sobre a série que escrevo este post. Apenas pretendo escrever sobre um facto que me chamou a atenção. Durante os 40 minutos da série, o médico fez umas três ou quatro viagens de “jeep” transportando no banco de trás três crianças, sem cadeirinhas nem cintos de segurança apertados.
Ver aquilo, em horário nobre, provocou-me alguns engulhos. O Estado gastou milhões de euros em campanhas, alertando para a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança e de cadeirinhas. A APSI faz campanhas por todo o país, ensinando como se colocam as cadeirinhas e explicando que existem à venda exemplares não homologados que não oferecem condições de segurança e, em breves minutos, a RTP propagandeia a transgressão. Fiquei a pensar se os pais dos miúdos não terão morrido de acidente por não usarem cintos de segurança…
Sou acérrimo defensor da televisão pública, mas quando vejo o canal do Estado a desfazer em poucos minutos o esforço de uma camanha que custou dinheiro aos contribuintes, não consigo ficar calado. Mesmo arriscando a escrever um post sem cinto de segurança, onde me parece haver vírgulas em excesso, mas que não me apetece corrigir. Por uma vez, sigo o exemplo da RTP e sinto o prazer de ser irresponsável.