O dever de Manuel, Manuela, noras e noros
O senhor Manuel e a senhora Manuela, reformados, donos de uma antiga mercearia, vivem sozinhos na moradia em frente. Não recebem, em regra, visitas de ninguém; só uma vez ou outra, mas sempre, sempre de quatro em quatro anos ou noutras datas eleitorais. Hoje a casa deles encheu-se de filhos, filhas, noras e noros, todos vieram votar. De dentro - sente quem passa à porta -, vem um muito agradável aroma de cozido à portuguesa, outra forma de amar Portugal. Acabam de sair, em grupo, sorridentes e vestidos a rigor. Vão na direcção das suas secções de voto. Vão cumprir um direito, que entretanto passou a dever e que ameaça tornar-se uma obrigação. Mas isso pouco importa, porque pelo menos hoje a família está junta. Amanhã voltarão mais tranquilos às suas solidões.