Depois da campanha eleitoral, o paraíso
Um grupo crescente de comentadores geme e suspira perante a falta de interesse da campanha eleitoral. E anseia pelo fim deste pesado fardo para que tudo possa voltar ao normal. Para estes, o nível rasteiro do discurso e da prática política é um episódio que se inicia na pré-campanha e termina no dia de reflexão. Depois, vota-se, se for o caso. E pronto. O inchaço vai diminuindo à medida que se perde o interesse no rescaldo do resultado eleitoral. E assim se acaba este espectáculo deprimente. Este grupo de excelentes políticos e todos os outros que os apoiam regressam ao seus afazeres correntes. E os eleitores dedicam-se, entre outras, às nobres tarefas de pagar IVA a 23% (está tão crescido o IVA!) e de perceber como raio se compram os identificadores das SCUTS ou como se faz prova de rendimentos inferiores a 485€ mensais para beneficiar (aqui está um verbo bem aplicado) de isenção nas taxas moderadoras. Ora, o que me parece é que esta boa gente anda distraída. Acham porventura que depois das eleições o nível se torna mais mais elevado? Pois a mim parece-me que isto é sempre assim. De Janeiro a Janeiro. Que é como quem diz, um ano inteiro e mais um mês. E, portanto (não, Chico Lopes, não chamei por ti), o que existe durante o resto do tempo é défice de atenção. Coisa que tem, provavelmente, consequência em muitos outros défices. Pois o que tudo isto nos leva a concluir é que a fraca qualidade média dos políticos é culpa nossa. Porque somos, em geral, pouco atentos e exigentes . E com isto me calo, antes que algum político nos venha pedir uma indemnização pelo estado de orfandade em que os deixamos fora das campanhas eleitorais