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Delito de Opinião

Crises de ruralidade, má-fé e mentiras várias

Ana Margarida Craveiro, 18.01.11

Apresentação de caso hipotético:

 

Estão a ver a A1? É aquela auto-estrada que liga Lisboa ao Porto. Com variações ao longo do dia, mantém um tráfego que a justifica. Vai daí, a Brisa, empresa proprietária, decide fazer obras de melhoramento. Vão construir uma auto-estrada elevada, que permite servir melhor os utentes e baixar os custos de utilização. Fica toda a gente feliz, apesar de ninguém ter pedido as referidas obras. As obras começam. Na primeira fase, destrói-se a auto-estrada original. É preciso arranjar alternativas para os utentes, que, lá está, são bastantes. Como a solução é provisória, por causa das obras, os utentes amanham-se o melhor que podem com as alternativas. Lembrem-se: nesta fase, a auto-estrada original já não existe, foi destruída. Até que a Brisa decide não fazer a nova auto-estrada. Arruma as tabuletas das obras, diz que afinal não tem dinheiro, e ala que se faz tarde. Nem A1 velha, nem A1 nova. Nada; não sobrou nada, a não ser as alternativas provisórias agora eternizadas.

 

Fim de caso hipotético.

 

Foi isto que aconteceu no ramal Coimbra-Lousã. É esta a história do agora morto Metro-Mondego, que ninguém pediu. Havia estudos a comprovar a utilização da linha, a sua rentabilidade. Em vez de optar por uma simples requalificação, os decisores políticos optaram por uma mudança radical, transformando a automotora em metro de superfície. De novo, ninguém o pediu. Foi mais uma vez a loucura despesista, a fúria do progresso. Tudo o que as populações queriam era a continuação do serviço normal de comboios. Nem mais, nem menos. As grandes teorias sobre ferrovias, economias da ruralidade e afins são muito engraçadas, mas não têm rigorosamente nada a ver com o que está em debate. São bitaites de quem não faz a menor ideia do que está a falar. A discussão do Metro-Mondego não tem nada a ver com reorganização da rede ferroviária; tem, sim, a ver com má-fé por parte dos decisores políticos, com incompetência pura por parte de quem governa. Só isso.

Se não há dinheiro para o grande projecto, mantém-se o mínimo existente. É isso que as populações de Coimbra, Lousã e Miranda do Corvo estão a pedir. Parece-vos extraordinário? A mim, não.

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