Convidada: MARIA JOÃO NOGUEIRA
Delito de opinião
Fui convidada para a passadeira vermelha deste Blog há mais de 1 mês, mais precisamente no dia 3 de Dezembro. Hesitei muito. Não estou habituada a escrever para ser lida por tanta gente, e os posts do meu blog são, na maior parte dos casos, iguais aos posts de tantos blogs pessoais. Palermices. Coisas do meu dia-a-dia. Um blog sem tema, sem agenda, sem pretensões. Mas o convite foi feito duma forma que não me permitia recusar. Com simpatia. Acedi.
Andei durante algum tempo a pensar no que é que eu poderia escrever que interessasse aos leitores deste Blog, que eu sei que são exigentes. E a verdade é que nada me ocorria.
O tempo encarregou-se de solucionar este meu problema de expressão. Criou outro, é um facto, mas temos de olhar as coisas pela positiva.
Assim, aproveito o "tempo de antena" que me concedem, para, ainda a quente, contrariar um bocadinho as várias análises que tenho lido, em relação ao caso Ensitel. Não vou contar a história toda de novo, não faz sentido e, confesso, já estou um bocadinho cansada, além de que os leitores do Delito de Opinião são pessoas informadas, dispensam informação redundante.
A grande maioria das pessoas cujas análises tenho visto tem, quanto a mim, uma leitura errada. Referem a qualidade das minhas ligações, e que se eu não tivesse activado esses meus contactos, nada disto teria acontecido. Não saberão, talvez (mas eu sei), que não activei nada. Conheço muita gente? Conheço sim senhor. Mal seria se com mais de 40 anos (42 para ser mais exacta) não conhecesse muita gente. Tenho os contactos de muitos jornalistas? Tenho, há muitos anos, sou amiga de uns quantos, fui contactando com muitos, ao longo da minha carreira, quer em publicidade quer, mais tarde, na indústria do online. Mas a verdade, é que não recorri a esses contactos. Não fiz um telefonema a pedir ajuda. A "qualidade" das pessoas com quem lido (no Blog, Facebook, Twitter, etc...) teve muito pouco a ver com esta bola de neve.
Desenganem-se aqueles que acham que me atribuo um papel importante nesta questão. Não tive, não sou a heroína de nada, nem paladina das liberdades. Tanta gente lutou, com sacrifícios pessoais tão grandes, pela liberdade, que eu acho um insulto acharem-me paladina seja do que for.
O factor fulcral tem a ver com a situação inicial. O conflito de consumo. Vivemos numa sociedade de consumo, consumimos todos os dias, muitas vezes por dia. É natural que existam más experiências. O facto da grande maioria das pessoas se conseguir colocar, com relativa facilidade, no meu lugar foi, quanto a mim, um dos principais factores, a empatia. Muitas foram as pessoas que não compreenderam que o fulcro da questão nada tinha a ver com telemóveis, ou indemnizações, mas com outra coisa totalmente diferente. E quanto a mim esse factor foi o segundo factor mais importante. Uma certa blogosfera percebeu o meu problema, e viu de imediato que era uma questão de delito de opinião (daí este ser o local indicado para escrever sobre o tema) e essa blogosfera reagiu de imediato à tentativa de silenciamento de uma opinião. Ainda estão muito presentes alguns fantasmas do passado.
Eu, a partir do momento em que fiz um tweet e publiquei o post, limitei-me a olhar e a ver a bola de neve a crescer, descontrolada, incontrolável. Incontornável também.
Hoje, apesar de ainda ser a quente, já consigo olhar para o que foi acontecendo com alguma distância. Já consigo sorrir, olhar para coisas que me passaram ao lado. Ainda não consegui agradecer a todas as pessoas, mas todos os dias tiro um bocadinho para essa tarefa.
Até agora, olhando para trás, há três coisas que me espantam: a quantidade de pessoas que no início do processo me sugeriram que removesse os posts e não me chateasse mais; a quantidade de pessoas que se solidarizaram comigo, e me escreveram mensagens, e comentários, e posts, e tweets e sms; e, por último, que ainda haja quem não perceba que, Delito de Opinião, é este Blog. Mais nada.