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Delito de Opinião

O caso BPN na modalidade de caça ao Cavaco

Rui Rocha, 05.01.11

Diz-se que o caso BPN entrou definitivamente na ordem dia. Por acaso, não concordo. O que de facto está em discussão é a abertura da época de caça. Ao Cavaco. Convém esclarecer que não defendo que o Cavaco deva ser considerado uma espécie protegida. Não existe nenhuma razão que justifique a sua protecção relativamente aos tiros políticos a que todos os candidatos presidenciais estão sujeitos. Quem vai à guerra dá e leva. E devo dizer, por isso, que não me revejo numa certa sobranceria que resvala do "tem que nascer duas vezes" ou do "já dei todas as explicações". Assim como é importante referir que não tenho qualquer apreço por uma certa visão do país e da sociedade, mesquinha e tacanha, a que Cavaco se associa. E, para nos entendermos, digo também que não me interessa a avaliação das implicações tácticas da caça ao Cavaco. Vai prejudicá-lo ou beneficiá-lo? Problema dele e dos outros candidatos. Posto isto, creio que o interesse do país impõe que se coloque o caso BPN, na modalidade de caça ao Cavaco, no seu devido lugar. Do que estamos a falar é de um negócio particular, realizado em 2002, por um cidadão que não tinha, à data, exercício efectivo de funções políticas. Um negócio que envolveu a venda de acções de um Banco que estoirou em 2008. Isto é, 6 anos depois. De um banco que até ao estoiro foi acompanhado pela supervisão do Banco de Portugal (bom dia, Sr. Dr. Vítor Constâncio) sem que esta vislumbrasse qualquer sinal de preocupação ou de gestão que pudesse ser criticada. De um Banco no qual o Estado confiava ao ponto de lá ter, em 2008, depósitos significativos (bom dia, Srs. Eng. José Sócrates e Dr. Teixeira dos Santos). De um Banco que foi resgatado na sequência de uma opinião técnica do Banco de Portugal (creio que já cumprimentei o então Governador do BP) e de uma decisão política (creio que já cumprimentei o Primeiro-Ministro e o Ministro das Finanças). Solução à qual Cavaco se associou pela assinatura mas, que não promoveu porque tal não lhe competia. Aliás, é curioso notar que Cavaco se apresenta a uma reeleição. E que o exame de carácter teria feito muito mais sentido antes da primeira eleição. Não foi feito? Claro que não foi feito. Na eleição anterior, o BPN ainda não tinha estoirado. Mas, à data, o negócio das acções já se tinha realizado. O que se pretende é, portanto, fazer do negócio de Cavaco causa directa da ruína do BPN e do martírio dos contribuintes que se seguiu e que há-de continuar. Ora, isso é uma completa perversão dos factos. E tem o efeito pernicioso de absolver a gestão do BPN antes e depois do estoiro, o regulador e os políticos que aprovaram a solução e que continuam a insistir em manter o BPN ligado à máquina à custa dos nossos impostos. Convém, aliás, não esquecer que a decisão política poderia ter sido a de liquidação imediata do BPN em 2008. E já não estaríamos a arrancar a barba na discussão sobre o negócio de Cavaco. O negócio das acções deve ser esclarecido. Mas, é também fundamental esclarecer o quanto, o quando e o como do custo do BPN para o contribuinte. E quais as relações da Caixa com o BPN e as consequências que estas podem ter. E as implicações dos veículos que estão a ser criados, com clara sobreavaliação de activos, na credibilidade do país. Para além de tudo isto, o caso BPN, tal como está a ser abordado, tem também a nefasta consequência de fazer esquecer que Cavaco tem atrás dele um mandato cheio de decisões políticas questionáveis pelas quais devia ser avaliado. E ainda o de existirem questões políticas fundamentais no futuro sobre as quais devíamos conhecer a posição de todos os candidatos. Que estão a passar despercebidas devido à espessa cortina de fumo que o caso BPN, na modalidade de caça ao Cavaco, está a provocar. Perante esta situação, não termino sem dizer que não votarei em Cavaco. Mas, também não posso pactuar com um Manuel Alegre descabelado no que diz respeito ao negócio das acções do BPN. Porque não o vi com o mesmo frenesim relativamente a outras questões de carácter que lhe estão muito próximas. E porque não reconheço autoridade moral a quem discursa com total inconsistência sobre questões como o Estado Social ou a gestão das contas públicas. Confesso que não suporto quem tem os pobres e os desfavorecidos na boca com o único objectivo de continuar a comer. E para dizer tudo, e já que falamos de carácter, repugna-me profundamente quem tem das mulheres a visão de criaditas ao serviço de jogos de iniciação sexual de meninos burgueses.

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