E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Ontem de manhã cedo fui num salto ao supermercado. Nos corredores mulheres recitavam ao despique ementas de reveillon enquanto homens namoravam queijos e vinhos com vagares de gourmet. Àquela hora não havia bicha para a caixa. À minha frente só uma mulher de 50 anos bem pesados e cinta xxl. Uma ruína de buço e cabelos acaju a clamar por obras. "Este ano vai ser diferente", dizia ela para a caixa. "Este ano vou passar o ano a dormir". A caixa, uma loura platinada que há muito devia ter sido morena, não aprovou: "Pois eu vou sair daqui às sete, chego a casa, visto o meu pijama azul e em chegada a meia-noite vou sozinha para a varanda fazer barulho. Ao menos barulho tenho de fazer." À meia noite lembrei-me dela. Uma borboleta azul de subúrbio a oferecer o peito a 2011.