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Delito de Opinião

Domingo, pingo a pingo (5)

Ana Vidal, 02.01.11

 

Ainda em balanço de velho ano mas, infelizmente, com consequências muito sérias que perdurarão por muitos mais anos novos que aí venham, não posso deixar de destacar as conclusões deste relatório do GAVE sobre o ensino em Portugal. Arrepiante e demolidor, deixa-me com a sensação de que nenhuma notíca pode ser pior do que esta para o nosso futuro como país: "(...) os alunos do secundário são incapazes de estruturar um texto encadeado e têm dificuldade em explicar um raciocínio com lógica."

 

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Dizem-me que quem ganhou o big brother da TVI foi um rapazinho que representa uma nova versão do célebre Zé Maria (lembram-se dele?). Ou seja, um rústico chico-esperto, um "bom selvagem" meio apatetado, manhoso qb, mas aparentemente lírico e ingénuo. Não discuto as qualidades verdadeiras do rapaz, que não conheço, e que podem até não ser aquelas com que ele nos é apresentado. Há que ter em conta que todo o programa se baseava num perverso trompe l'oeil que pretendia enganar tudo e todos, durante o máximo tempo possível. O que eu questiono é o baixíssimo grau de exigência que preside ao espírito de quem vota (a votação foi pública), premiando e incensando um perfil deste género. É a elegia da mediocridade, preocupante porque reveladora da nossa tendência para nos contentarmos com pouco, para confundirmos bondade com imbecilidade e para o medo pueril de tudo o que foge ao mediano. Não é com gente assim que um país progride, seguramente. Sempre embirrei com o filme Forrest Gump por causa dessa mesma mensagem perigosamente enganadora.

 

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Graças às inesperadas e arrasadoras medidas recém anunciadas quando às prestações para a Segurança Social, a  imensidão de portugueses que trabalhava a recibo verde vai ter de correr a uma consevatória para criar uma empresa unipessoal. Quem não o fizer será ainda mais penalizado do que já era, e acrescentará à precaridade da sua situação uma pesada contribuição para o famigerado Estado Social de faz-de-conta, que cada dia lhe garante menos apoio em todas as frentes. Mais uma esperteza encapotada deste (des)governo criminoso, que anunciará - aposto! - uma "explosão de novas empresas que revela uma economia florescente e saudável", e arrecadará cerca de quinhentos euros por cada uma delas (o custo inicial aproximado da criação de uma "empresa na hora"). Quantas sobreviverão já é outra história, irrelevante para as estatísticas de crescimento a apresentar, triunfalmente, aos vorazes "mercados" que têm de ser acalmados. Simplex, não?

 

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Entretanto, e ainda sobre o mesmo tema, esta vergonhosa notícia vem gozar com a nossa cara. Que tal denunciarmos e revoltarmo-nos contra estes abusos? É que, apesar dos pesares, é mais urgente do que nunca que saibamos reagir à apatia e à depressão que tudo isto nos provoca. Criatividade, imaginação, solidariedade e optimismo, são as armas a que temos de deitar mão para arregaçar as mangas e enfrentar 2011. Não basta desejarmos saúde e paz, por muito que elas sejam fundamentais para tudo o resto. Vamos precisar de mais do que isso, desta vez. A bem da nossa sobrevivência e da viabilidade deste país. A bem de todos nós e de cada um.

2 comentários

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    Ana Vidal 02.01.2011

    Esperemos que seja mesmo para a frente, João. Chega de andarmos para trás, nestes últimos anos não temos feito outra coisa.
    Bom ano para ti!
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