Presidenciais (9)
Debate Defensor Moura-Francisco Lopes
Defensor Moura votou favoravelmente o Orçamento do Estado para 2011 mas não tem dúvidas em admitir que "gostava de ter outro Orçamento". A tal ponto que, se não fosse deputado do partido do Governo, teria desfilado sem hesitar nas ruas, marchando em protesto contra o Orçamento socialista durante a recente greve geral.
Confusos? Eu também. Felizmente para o ex-presidente da câmara de Viana do Castelo, este foi o último debate televisivo em que participou na campanha presidencial: cada aparição sua no ecrã arrisca-se a ser um contributo para o anedotário nacional. O frente-a-frente desta noite, na TVI, em que debateu com Francisco Lopes foi mais um bom exemplo disto. Por um lado, acusa Cavaco Silva de não ter feito "todo o esforço para alcançar um acordo estável que permitisse a governação". Por outro, garante que se estivesse no lugar de Cavaco teria dissolvido a Assembleia da República "no início do ano", ainda antes de o segundo Governo de José Sócrates ter cumprido seis meses em funções. Suprema ironia: o Presidente Defensor teria dissolvido o deputado Defensor. Elementar, meu caro Moura.
Francisco Lopes mal precisaria de abrir a boca para ter ganho este debate. Ganhou-o, de facto, mas por ter revelado um discurso mais objectivo e muito mais coerente em matérias tão diversas como a crítica à especulação dos mercados e a necessidade de "aumentar a produção industrial", apontando exemplos concretos. Pareceu apenas esquecer o limite dos poderes constitucionais do Presidente da República, a quem não compete a definição das grandes linhas económicas do País: alguém devia informar o candidato comunista que as atribuições do Chefe do Estado foram consideravelmente reduzidas na revisão constitucional de 1982. Mas voltou a marcar pontos na questão do BPN, como já o fizera no debate que o opôs a Cavaco Silva, considerando-o um "escândalo nacional". Defensor Moura, que também se mostra muito indignado com o caso BPN, deixou ontem por comentar uma questão directa da moderadora, Constança Cunha e Sá, sobre o caso Face Oculta. Dois pesos, duas medidas.
Seria de esperar algo diferente daquele que é capaz de ser o único português hoje capaz de apontar a catastrófica Grécia como um exemplo a seguir só para levantar a bandeira da regionalização?
Vencedor: Francisco Lopes
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Frases do debate:
Lopes - É um escândalo nacional ter havido um acordo entre o Governo e o Presidente da República para adquirir os prejuízos do BPN. (...) Hoje está cada vez mais claro que essa intervenção não devia ter sido feita.
Defensor - O clientelismo e a corrupção são tolerados pelos portugueses desde o mais baixo nível. (...) O Presidente da República deve ser intolerante com os negócios ilícitos.
Lopes - É necessário haver o máximo entendimento possível. A questão é saber em torno de quê. Se é em torno deste rumo dos últimos 30 anos que afundou o País e que vai continuar a afundá-lo de forma dramática em 2011, não.
Defensor - É preciso acabar com o dinheiro vivo no apoio aos partidos e às campanhas eleitorais. Deve haver a maior transparência no apoio aos partidos.
Lopes - Considera-se dinheiro vivo um reformado pagar uma quota de dois euros ao seu partido e que ele é um potencial corrupto. Mas se alguém passa milhões da banca para um partido isso já é aceitável. (...) Os partidos não devem ser sucursais dos grandes grupos económicos nem departamentos do Estado.
Defensor - Durante este ano o Presidente da República teve uma actuação muito abstencionista.
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A 'gaffe':
"É nas crises que se fazem as grandes transformações. Veja-se o que está agora a fazer a Grécia. Na Grécia está-se a fazer a regionalização."
Defensor Moura