25 de Abril Sempre!
jpt, 25.04.24
25 de Abril Sempre! E esta é a minha "canção de intervenção" (poderiam ter os Xutos cantado e gravado com os "coronéis" da censura actuantes?, e convém agora perguntar isto aos pategos do voto CHEGA. E aos melífluos da "maioria da direita" actual....). Mas nunca o foram as tralhas a la "Pedra filosofal" e quejandas pinderiquices daquela época, e as patéticas de ignorantes quais "Um homem novo veio da mata", e isto ninguém o diz pois 50 anos depois José Afonso, o sempre "Zeca", continua incriticável.
Enfim, 24 de Abril, almoço em restaurante goês, por mim recomendado. Chamuças gloriosas, o meu cabrito soberbo. Infelizmente o caril de camarão dos convivas não justifica a deslocação. Bebinca como deve ser, e entretanto o achar de manga apresentava-se magnífico. À minha frente - pretexto do almoço - um querido amigo, comunista de outras paragens. Atravessar-me-ia por ele, se viesse a ser necessário. E se vier a ser, sublinho, ainda que não creia que tal já não o venha a ser, morreremos em paz.
Diz-me ele, sempre, ser eu o único reaccionário de que gosta. Quero crer que, se tivesse sido necessário, me teria safo, avisado para que me escapasse ou protegido em algum campo em que estivesse eu recluso, evitado que fosse eu encostado ao célebre, e tão dito virtuoso, "el paredon". Aquelas coisas de sempre aquando mandaram os da sua ideologia.
Um dia, há já muitos anos, quis contextualizar o seu pensamento. Ri-me, com carinho, num "conheço-te, és como o meu pai", comunista puro - ainda que o meu pai, o Camarada Pimentel, fosse ainda mais puro, mais crente qu'isto poderia melhorar num rumo benevolente, sem esta percepção de que "a vida é sempre a perder" e por isso "uma vontade de rir nasce do fundo do ser...". Ou talvez a tivesse, o Camarada Pimentel, sabendo bem que "contra tudo lutas, contra tudo falhas, todas as tuas explosões, redundam em silêncio" e por isso, acima de tudo por isso, a sua infinita doçura ortodoxa, essa de nunca reconhecer a descrença. No fim, os famous grouse bebidos, diz-me o meu amigo que amanhã irá marchar "avenida abaixo", comemorando. E que sabe que eu quererei marchar "avenida acima". Conhece-me bem, este meu mais-velho, rio-me.
Sigo, e recuo até ao bairro. Sento-me com uma mais-que-querida, mana. Diz-me, provoca-me, e nisso até me surpreende, que irá marchar amanhã, na tal "avenida abaixo", coisa de ser o "cinquentenário". Acompanhada de amigas, as minhas queridas, lindas, ainda mais agora, com um pé ou ambos nos 60s, do que antes o foram. Rio-me, com sarcasmo invectivo-a, digo-lhe que "nem pensar". Convoco-a para que me leia, que o ano passado fui a Bogotá louvar o 25 de Abril explicando porque nunca "desço a Avenida". Insiste, risonha, provoca-me. Hesito, na perspectiva da passeata, da junção com as mais-belas, com os seus maridos, gajos porreiros, na expectativa de uma jantarada posterior... Na mesa um vizinho lembra, telefone na mão, que "os teus" (como se eu os tivesse) "também desfilarão" - para quem não saiba há uns anos a organização comunista do "descer a avenida" impediu os da IL de participar mas desde há dois anos que aceitam os "neoliberais" (aka "fascistas") naquele calcorrear do Marquês abaixo.
Sorrio, peço mais uma imperial, toca o telefone, combinam-me uma reunião a meio da tarde. O que me evita as hesitações. Sorrio mais ainda, a tal "vontade de rir nasce do fundo do ser". Pois por mais que as minhas tão queridas me sejam tão queridas, e os seus maridos tão porreiros, a minha vontade de marchar com os António Filipe é tão grande como a de ombrear com os Ventura. E, murmuro, para que ninguém me ouça, pior ainda seria o marchar com os do PS, gente tétrica.
Mas 25 de Abril Sempre! Porque "todas as" minhas "explosões redundam em silêncio!"