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Como é curial o Teatro Nacional D. Maria II acolhe um "ciclo de Teatro para celebrar a Liberdade", integrando-se nas comemorações do cinquentenário do 25 de Abril.
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Leio a programação. E noto este Luta Armada., uma produção da Companhia de Teatro Hotel Europa. A proposta é inserida num projecto de "teatro documental multidisciplinar", neste caso incidindo sobre "projetos políticos que recorreram a ações violentas como forma de luta." Na sua página digital a companhia tem uma sinopse do programa. No programa do D. Maria II a sinopse foi resumida.
Pode-se discutir (e discute-se) se a linguagem é constitutiva e/ou algo determinante das mundivisões dos seus praticantes. Nada sei sobre o assunto. Mas sei que os textos são constitutivos das percepções e interpretações alheias. Para isso falamos (e escrevemos). As opções que fazemos nas construções textuais têm propósitos, muitas vezes o da "demonstração" e o da "influência". Às vezes é estratégia é inconsciente, outras vezes não. Às vezes o propósito é explícito, outras vezes implícito. Às vezes é-se competente, outras vezes mesmo incompetente. Às vezes a retórica é adequada (ao contexto de interlocução), outras vezes um verdadeiro disparate (no contexto de interlocução). E a interpretação daquilo que os outros dizem (e escrevem) é um "mundo", uma miríade de hipóteses, pois se "a cada cabeça sua sentença" também é verdade que "a cada cabeça seu resmungo". Até porque - creio - as interpretações são muitas vezes apriorísticas, interpreta-se o que o outro diz (ou escreve) não em função do texto mas daquilo que pensamos (e assim antevemos sobre as suas intenções) do locutor.
Dito tudo isto, o Teatro Nacional D. Maria II comemora "a Liberdade" e apresenta um interessante projecto com este texto: "Um trabalho que passa pelas ações de grupos que atuaram antes e pós-revolução: os que viam na luta armada a única forma de acabar com o fascismo e o colonialismo português; os grupos de extrema-direita que atuaram no período do PREC; os movimentos independentistas dos Açores e da Madeira e ainda os que, pós-1980, lutaram para repor o socialismo."
Que cada um interprete à sua maneira os implícitos e os explícitos deste breve trecho, produzido pelo Estado português em 2024. A avaliação patente, "valoração" discriminada, se se quiser, dos processos históricos. Para comemorar ... "a Liberdade".