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Delito de Opinião

Presidenciais (4)

Pedro Correia, 19.12.10

 

 

Debate Francisco Lopes-Manuel Alegre

 

Nunca me lembro de ter visto o PCP tão pouco internacionalista como nos dias que correm. O discurso anti-europeu, noutros tempos bandeira de Paulo Portas e Manuel Monteiro, foi apropriado pelos comunistas portugueses, actuais campeões do isolacionismo. Falam permanentemente em "soberania nacional", bradam contra tratados já tão remotos como os de Maastricht e Amesterdão, revelam saudades do velho escudo. "O euro significou 20% da perda de competitividade do nosso país", declarou esta noite o candidato do PCP, Francisco Lopes, no debate que o opôs a Manuel Alegre na SIC. Clara de Sousa bem se esforçou para introduzir alguma dinâmica, mas em vão: foi até agora o mais monótono e maçador dos debates desta campanha presidencial. Alegre, ao contrário do que sucedera com Fernando Nobre, tratou Lopes com grande amabilidade. Nunca o criticou e chegou mesmo a elogiá-lo: "A candidatura de Francisco Lopes é uma candidatura positiva que contribui para o debate e a clarificação de posições." Pressentia-se o incómodo de Lopes, que procurou - sem sucesso - apontar a Alegre pecadilhos tão variados como o apoio ao Orçamento do Estado para 2011, os tratados europeus e "a política do Governo". Alegre, que passou uma legislatura inteira a criticar o Executivo do PS, pode bem com estas acusações, respondendo a Lopes da forma adequada: com total indiferença. Lembrando, de passagem, que é candidato a Presidente da República e não "a outra coisa qualquer". Secretário-geral do PCP, por exemplo.

Houve perguntas da moderadora que ficaram sem resposta: o comunista recusou responder se preferia ver Portugal fora do euro, o socialista nada disse sobre o seu eventual desejo de receber o voto do ex-amigo Mário Soares. De resto, Alegre cortejou sem rodeios o eleitorado comunista. Lembrando ter sido ele o autor do preâmbulo da Constituição da República, que continua a apontar o "caminho do socialismo" para Portugal, e mostrando-se indignado com a "ofensiva especulativa dos mercados financeiros contra os órgãos democráticos de países democráticos".

Não faltaram críticas a Cavaco. A mais convincente veio de Alegre: "Cavaco Silva acrescentou problemas ao funcionamento do sistema, até pela maneira como promulga as leis, manifestando dúvidas e reservas. É um factor de instabilidade, até pela maneira como exerce os mais simples poderes, como o de promulgar leis." Não falou mais que Lopes, não falou muito diferente, mas falou melhor.

Vencedor: Manuel Alegre

 

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Frases do debate:

 

Lopes - O Orçamento do Estado para 2011 vai cair em cima do povo português em cada dia de cada mês do próximo ano.

Alegre - Não há estabilidade política sem estabilidade social.

Lopes - O candidato Manuel Alegre associou-se à votação dos tratados europeus.

Alegre - Eu sempre discordei do Tratado de Maastricht. (...) Eu se fosse Presidente da República já teria pedido uma audiência à senhora Merkel e ao Presidente Sarkozy.

Lopes - O Presidente [Cavaco], em vez de ser a voz de Portugal, foi a voz dos mercados.

Alegre - [Cavaco] acrescentou pessimismo ao pessimismo.

Lopes - [Cavaco] foi o padrinho deste orçamento.

Alegre - A pobreza não deve ser explorada para fins de campanha eleitoral.

 

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A 'gaffe':

 

"Fui a única candidatura que tomou uma posição portanto que este orçamento portanto não devia ser aprovado. Portanto o rumo do País tem que ser outro e há uma responsabilidade portanto do PS e do PSD portanto que está muito patente neste orçamento."

Francisco Lopes

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