A geração nem-nem
Um estudo que acaba de ser divulgado revela que 314.000 portugueses com idades compreendidas entre 15 e 30 anos não têm qualquer actividade. Nem estudam, nem trabalham. A, assim chamada, geração nem-nem não é um fenómeno exclusivo de Portugal. Um pouco por todo o Mundo tem sido identificada a mesma realidade. Tipicamente, esta é uma geração potencialmente melhor preparada do que as que a precederam e, aparentemente, muito segura de si. São, todavia, presa fácil da degradação do mercado laboral e não conseguem encontrar uma saída airosa, nem combater este estado de coisas. Os sociólogos identificam uma característica muito comum neste grupo: a inexistência de qualquer projecto de vida. As manifestações mais evidentes são a apatia e a indolência. O que os trouxe até aqui? Um ambiente familiar extremamente tolerante, um sistema educativo permissivo e desajustado das necessidades do mercado de trabalho e um contexto geral de facilitismo e de bem-estar que hoje sabemos ser insustentável. A Teresa, há dias, trouxe-nos aqui uma das justificações para que vagas disponíveis não sejam preenchidas: os baixos salários. É uma das faces do problema. A outra diz-nos que, para um grupo mais ou menos numeroso, é muito mais confortável viver à custa dos pais. Os salários são de miséria? É verdade. Mas, não são uma sentença perpétua. E não será também uma miséria passar o dia a jogar wii e a colocar mensagens idiotas no mural do Facebook? Esta gente tem de saber o seguinte:
- as gerações anteriores estão absolutamente instaladas e não vão prescindir dos direitos adquiridos. Solidariedade inter-geracional? Bah!
- é provável que os pais não possam continuar a sustentá-los;
- o Estado não vai poder sustentá-los;
- o esforço e o trabalho não são uma vergonha. Qual o santo que terá dito a certa gente que é 'cool' não estudar e fazer disso bandeira no bar da escola, ao qual se chega arrastando os pés, de braços caídos e com as calças a cair pelas pernas abaixo? Essas cuecas são Tommy? Uma coisa te digo, Tiago Filipe: a Andreia Paula, sim aquela dos olhos verdes de quem não tiras os olhos, cansa-se facilmente de morcões. Põe lá as costas direitas e o passo firme!
- com todas as críticas que se possam fazer o estupor do país tem algumas coisas boas. A educação é quase de graça. Aproveitem. É das poucas coisas grátis que a vida vos vai dar. Lembram-se do vosso Avô? Pois, combateu na guerra colonial. A vossa avó criou cinco filhos quase sozinha. A vossa mãe passou fome. E o vosso Pai trabalhou numa empresa metalúrgica, com pouco salário e nenhuns direitos. Vidas um bocadinho mais difíceis, não? E deram-lhes a volta.
- as novas oportunidades não valem nada. Se não podem trabalhar, estudem. Mas, estudem coisas sérias. O mercado laboral não é estúpido e sabe distinguir.
- um emprego conquista-se. Mandem currículos, dirijam-se a empresas, batam às portas. Mandaram mil candidaturas? Mandem mais dez. Todos os dias. Não conseguem emprego? Façam voluntariado. Dar é receber. Nem que seja experiência e contactos.
- o que aí vem é pesado. É importante que cada um faça a sua parte para, depois, ter legitimidade para reclamar. O teu pai vive do rendimento mínimo? Tu não o vais ter!
Não tomo a parte pelo todo. Todos os dias me cruzo com gente jovem de enorme valor. Mas, o dado sociológico é que a parte está a a crescer. Em direcção a lugar nenhum.