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Delito de Opinião

Presidenciais (2)

Pedro Correia, 16.12.10

    

 

Debate Defensor Moura-Manuel Alegre

 

O que levou Defensor Moura a candidatar-se à Presidência da República? O ex-presidente da câmara de Viana do Castelo, hoje deputado do PS, perdeu esta noite uma excelente oportunidade de esclarecer os portugueses sobre tão enigmática questão. Num frente-a-frente com Manuel Alegre na RTP, o médico minhoto revelou-se uma figura afável mas inócua. Quer "regionalizar" o País - uma bandeira que talvez lhe valha uns votos a norte do Douro - e lutar contra a "corrupção e o clientelismo", que define como os dois "maiores cancros nacionais". Há largos milhares de pessoas que pensam o mesmo sem lhes passar pela cabeça concorrer a Belém.

Manuel Alegre, sem um verdadeiro adversário pela frente, tratou com amabilidade e sem sobranceria o seu camarada de partido, o que lhe ficou bem mas só reforçou a ideia de que não estávamos perante um debate a sério. Foi quando muito, nesta noite tão fria, um debate de aquecimento para outros confrontos. Alegre e Defensor mostraram-se em sintonia nas críticas ao actual Presidente da República, nos reparos quase cavalheirescos às anunciadas alterações do Governo à lei dos despedimentos e na necessidade imperiosa de o País bater o pé aos mercados financeiros. Cavaco Silva, naturalmente, foi quase em exclusivo o foco das críticas, mas não terá chegado a ficar com as orelhas a arder. "O Presidente da República já devia ter dado uma palavra sobre esta pressão que está a ser exercida sobre Portugal", declarou Alegre, sem se esquecer de citar o nome de Mário Soares. "O Chefe do Estado deve ser cúmplice do Governo nesta resistência ao exterior", disse Defensor, quase em coro.

Este frente-a-frente (que melhor deveria ser classificado de lado-a-lado) permitiu perceber qual será o mote dominante do poeta na sua segunda tentativa de vencer umas presidenciais: Alegre vai apelar até que a voz lhe doa à defesa intransigente do "Estado social", sem tolerar alterações ao Serviço Nacional de Saúde e à escola pública.

Talvez o momento mais interessante deste debate que Judite Sousa mal necessitou de moderar foi aquele em que o candidato apoiado pelo PS e pelo Bloco de Esquerda vaticinou a provável vitória eleitoral do PSD nas próximas eleições: "Pode muito bem acontecer que haja outro ciclo político nas legislativas."

Sócrates certamente não gostou.

 

Vencedor: Manuel Alegre

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Frases do debate:

 

Defensor - Neste momento Manuel Alegre é mais conhecido que eu.

Alegre - O que seria, num país como o nosso, se as pessoas tivessem de pagar para ir à escola?

Defensor - Sou um deputado que tem massa cinzenta dentro da sua cabeça.

Alegre - É espantoso como não há uma rebelião do Estado democrático contra o capital financeiro.

Defensor - Os dois cancros da democracia portuguesa são a corrupção e o clientelismo. Aliados ao centralismo, são a asfixia total das potencialidades dos portugueses.

Alegre - Os défices da pobreza e da desigualdade são défices terríveis no nosso país.

Defensor - Cavaco Silva devia ter pressionado o Governo e a oposição para um acordo estável.

Alegre - A função do Presidente da República é uma função de mediação política e mediação social. O actual Presidente da República falhou nestas mediações.

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A 'gaffe':

 

"O que conquistar mais votos é que irá à segunda volta [com Cavaco]. Boa sorte para ele. E boa sorte para mim."

Defensor Moura

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