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Delito de Opinião

A sabedoria de Simón Bolívar

Pedro Correia, 03.03.09

 

 

"Nada é tão perigoso como deixar permanecer um homem muito tempo no poder."

Bolívar

 

Hugo Chávez fez aprovar em 1999 uma Constituição que lhe garantia um mandato presidencial de seis anos, prorrogável por outros seis. Não lhe bastou: em Dezembro de 2007, convocou um referendo para alterar a lei fundamental que ele próprio aprovara, desta vez para se fazer eleger sem limite de mandatos - algo inédito no continente americano, exceptuando em regimes ditatoriais. Perdeu esse referendo: pressionado pelas chefias militares, ao fim de alguns dias, garantiu que aceitaria o resultado e não voltaria a pensar no assunto. Mas afinal não pensou noutra coisa: 14 meses depois, faz convocar outro referendo que enfim ganhou, por nove pontos de vantagem (54%-45%). Poderá alterar a Constituição e manter-se no Palácio de Miraflores "até 2049", quando perfizer meio século de mandato presidencial, como já antecipou.

 

Alguns, à esquerda, ainda olham para Chávez como um modelo a seguir. Equivocam-se profundamente: o ex-tenente-coronel paraquedista é apenas um vulgar candidato a ditador cada vez mais autoritário, cada vez mais arrebatado pelo culto da sua própria personalidade, cada vez mais determinado a esmagar todos quantos lhe façam frente. Nesta campanha referendária, mandou a empresa de telefones móveis Movilnet, nacionalizada em 2007, distribuir mensagens com a sua voz num apelo ao voto 'Sim': os 11 milhões de utentes receberam a mensagem, sem terem acesso a um apelo equivalente do 'Não'. Por outro lado, a televisão pública venezuelana, durante o mês de campanha, apenas divulgou imagens de comícios pelo 'Sim' nos serviços «noticiosos», sem qualquer referência às acções promovidas pela oposição a Chávez. Agora, embalado por um poder que supõe absoluto, manda a tropa ocupar as empresas agro-alimentares e antecipa pela boca de um ministro a "expropriação" dessas empresas.

Assim vai o regime «socialista» decretado pelo Presidente venezuelano, que se diz permanentemente inspirado pelo pensamento de Simón Bolívar, o fundador do país. Mas Bolívar certamente se distanciaria do regime chavista, que mistura autoritarismo e populismo, ingredientes que se têm revelado letais na América do Sul. "Nada é tão perigoso como deixar permanecer um homem muito tempo no poder. O povo habitua-se a obedecer-lhe e ele habitua-se a mandar. Daqui nasce a usurpação e a tirania."

O autor destas palavras sábias? Precisamente Simón Bolívar. Aplicam-se como uma luva a Hugo Chávez, «bolivarista» que não segue os conselhos de Bolívar.

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