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Delito de Opinião

Domingo, pingo a pingo (3)

Ana Vidal, 05.12.10

Deve haver centenas de histórias semelhantes, mas é engraçado como estas coisas acontecem: escrevi estes "Exercícios filosóficos" (uma brincadeira sobre os dois Sócrates) aqui no Delito, em  Fevereiro de 2010. Hoje, passado quase um ano, recebi de quatro pessoas diferentes o meu próprio texto - com ligeiríssimas alterações e um título diferente - como  sendo uma graçola dessas que circulam na net sem autoria definida.

 

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Este foi um fim-de-semana de emoções fortes, em família. Um regresso à terra onde passei a minha infância, para dois momentos igualmente emotivos, apesar de em polos opostos: Um casamento e um funeral, no espaço de 2 dias. Ambos na mesma igreja, ainda imponente apesar de tragicamente amputada e saqueada, em plena revolução de Abril, sob o absurdo  motivo da classificação como monumento nacional. Com esse pífio pretexto, foram-se irremediavelmente os santos e os castiçais de talha dourada dos altares laterais, foram-se as toalhas de linho e renda, foi-se a riquíssima teia e os passos da via-sacra, foi-se um enorme Cristo crucificado de pau-santo, marfim e prata, foram-se até os degraus de pedra em caracol que levavam ao púlpito, agora ridiculamente "pendurado" no vazio e sem acesso. Todo este precioso património desapareceu liminarmente, sabe Deus para  que feiras de antiguidades, e foi orgulhosamente substituído por modernos mamarrachos de gosto mais do que duvidoso. Teria sido bem melhor que nunca ninguém se tivesse lembrado de tão "honrosa" classificação. Mas naquele tempo (e não só, infelizmente) muitos abusos e crimes patrimoniais foram cometidos, naquela e em muitas outras igrejas, pelo país fora. Para mal dos nossos pecados, quem se manteve desde essa época foi o padre, apesar de detestado por toda a gente. Graças a um talento de político para manter-se sempre à tona, respirando a cada momento l'air du temps, o homem piedoso que vociferava do altar abaixo, nas missas dominicais, contra as famílias (entre as quais a minha) que na sua douta opinião tinham casas grandes de mais, exortando o povo a invadi-las e esquecendo-se de que ele próprio ocupava - sozinho! - uma enorme casa pertencente ao patriarcado onde caberiam várias famílias sem grande risco de se cruzarem no belo claustro do séc. XVI, foi a mesma criatura que agora se derreteu num bajulador elogio fúnebre a um dos últimos patriarcas da minha família. E a mesma que, horas depois, proibiu que uma modestíssima urze branca permanecesse a enfeitar a igreja mal acabasse o casamento do dia seguinte. E ainda a mesma que declara, sem qualquer pejo ou noção do seu papel, que não visita os paroquianos doentes porque "lhe faz muita impressão". Enfim, há coisas que nunca serei capaz de entender.

 

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Recebo habitualmente os convites para as actividades do MNAA (Museu Nacional de Arte Antiga), e graças a isso vou estando a par de alguns acontecimentos interessantes, que não perco sempre que me é possível. Mas fiquei abismada com  os ridículos floreados protocolares de um dos últimos que recebi, para a inauguração de uma exposição. Dizia o convite, literalmente: "Ao evento digna-se comparecer o Exmo Secretário de Estado da Cultura (...)". Digna-se? Digna-se comparecer?? Mas então não é essa a obrigação de um secretário de Estado? E afinal estamos a falar do principal Museu de Arte do país ou de alguma venda de Natal numa Junta de Freguesia?

 

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E pronto, deixo-vos com duas sugestões divertidas para desanuviar destes temas menos edificantes:

 

1ª. Um anúncio: a um original torneio de sueca (infelizmente já não vamos a tempo da inscrição), com prémios apelativos e muito adequados aos tempos de crise que atravessamos. Pergunto-me o que teria sido o lanche no final do torneio...

 

 

2ª. Uma adivinha: como podemos saber que o dono deste conjunto de mesa e cadeiras (posto à venda no e-bay) é homem e muito distraído? Venham de lá os vossos doutos palpites...

 

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