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Delito de Opinião

Desfile de saudade

João Carvalho, 04.12.10

Passei o dia a ler e a escutar muita gente a pronunciar-se sobre Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Pessoas conhecidas e cidadãos anónimos, pessoas que privaram com eles e outros que nunca os viram viver. Durante o dia, enquanto lia e ouvia o que pude, senti frequentemente a tentação de pensar que estamos perante um "sebastianismo" revisto e actualizado. Afinal, os portugueses sempre tiveram uma espécie de necessidade de encontrar um salvador, um mito que não místico, alguém que a memória consiga rever em carne-e-osso, alguém que partisse antes de poder partir, alguém a quem confiar as dificuldades colectivas, sabendo ao mesmo tempo que não voltará — o que alimenta ainda mais esse lamento sofrido tão português.

Mas não me parece bem isso. Acredito mais que assisti a uma saudade, à saudade de Sá Carneiro. A certeza de que Portugal seria necessariamente diferente, sem se saber em que medida, e a saudade de um homem que marcou um tempo já em si marcante. A saudade de um sonho, também — ou sobretudo. Um sonho que nunca se realizou, mas que era possível sonhar e de que é possível ter saudade. Creio que foi a isso que assisti. Admito que o sonho não teve morte em dia certo a horas certas. Porém, morreu. Ficou esta saudade que hoje vi desfilar.

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