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Cinzas
Foram-se os dias mais iluminados
as breves bebedeiras, os rastilhos
os projectos de livros e de filhos
ou dos altos pinheiros nunca plantados
Esgotou-se o tempo no olhar mortiço
antes bravio, livre, amotinado
E do frémito ardente do passado
ficaram só as cinzas. Foi-se o viço
do antigo sorriso. E a palavra
solta e rebelde, hoje é tão comum
como o suspiro que entre rugas lavra
E por fim, cruel como nenhum
o último vigor que a alentava:
Foram-se os ódios todos, um a um.
(Imagem: René Magritte)