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Delito de Opinião

Combater a epidemia

Rui Rocha, 23.11.10

 

Manual Prático de Prevenção do Novo Vírus da Dívida Soberana (edição especial para Governos de países endividados do Sul da Europa, revista e adaptada ao caso português):

I) Principais Sintomas:

a) juros da dívida com temperatura superior a 7%; b) dificuldades de financiamento c) orçamentos restritivos; d) recessão e) irritação social podendo, em certos casos, ocorrer Greve Geral; f) ministros com pensamento desconexo e sinais evidentes de desorientação.

II) Medidas e Orientações para elaboração de Planos de Contingência:  

a) Lavar frequentemente as mãos. A crise? Eh pá, não fomos nós. Não temos culpa nenhuma disso! Invocar sempre um brilhante track record de saneamento das contas públicas. Não esquecer de mandar um Postal de Boas-Festas ao Constâncio. Escovar também as unhas!

b) Tossir e espirrar para cima de toda a gente. Responsabilizar sempre terceiros pela má governação. A eficácia será maior se forem identificados vários responsáveis alternativos: a Oposição, os Mercados, a Situação Internacional, o Aquecimento Global, o Ruca e a Barbie, o Míldio da Videira, o Nemátodo do Pinheiro ...  Está na hora de apelar à criatividade. 

c) Manter distância de países infectados. Salientar a enorme diferença que existe entre a nossa situação e a de outros países que já foram contaminados. Semelhantes à  Irlanda, nós? Por amor de Deus! Os irlandeses são todos ruivos, senhores. Assobiar para o ar na presença de um Grego. Mudar de passeio perante a aproximação de um Espanhol.

d) Utilizar máscara de protecção. O vírus da dívida soberana transmite-se sobretudo pelos olhos. A máscara deve impedir por completo que se veja a realidade. Isso mesmo: convém não ver nadinha. É um bocadinho desconfortável, não é? A nossa saúde está primeiro!

e) Evitar alarmismo na sociedade. Não se pode estar sempre a falar na crise da dívida, que diabo. Ò Amado... outra cimeirazinha da Nato em Dezembro é que era. Vê lá se consegues, pá. Isso mesmo. Diz ao Obama que já chegaram os blindados. 

f) No caso de ocorrerem sintomas, jamais contactar a linha FMI 24. É que nem pensar! Eram bem capazes de dar baixa ao Governo e a malta quer é trabalhinho. Em geral,  recusar qualquer tipo de ajuda. Nós cá nos vamos governando.

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