Amado faz xeque a Sócrates
Escassas horas após o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, ter feito um apelo à necessidade de todos os responsáveis da vida pública portuguesa enviarem uma "mensagem positiva" aos mercados internacionais, um dos seus colegas de Governo, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, proclama em entrevista ao Expresso que o País pode "sair da zona euro" se não houver uma profunda remodelação do Executivo com a formação imediata de uma "grande coligação", à moda austríaca. Uma descolagem clara de Luís Amado, em rota de colisão com o primeiro-ministro, que o coloca desde já à cabeça dos candidatos a liderar um suposto governo de "salvação nacional". "O País precisa de uma coligação já", declara o ministro, sem rodeios de qualquer espécie, tornando nula a mensagem anterior que Sócrates emitira pela boca de Silva Pereira.
A partir de agora nada ficará na mesma. O bloco central que tem vindo a ser defendido dia após dia, alternadamente, por personalidades da área do PS e do PSD, vai ganhando corpo. Ainda há poucas horas pudemos ouvir também o ex-ministro socialista Correia de Campos, agora deputado no Parlamento Europeu, afirmar na RTP N: "Temos necessidade de uma política bipartidária que nos permita sair da crise."
Sem necessidade de proferir uma palavra em público, Cavaco Silva vê o terreno aplainado neste cerco duplo que outros lançam para afastar José Sócrates por um lado e travar Passos Coelho por outro. Vivemos tempos interessantes. Apesar da crise. Ou antes: por causa dela.